Filhos adotivos de dona do "Clarín" aceitam fazer exames de DNA
Os dois filhos adotivos de Ernestina Herrera de Noble, dona do Grupo Clarín -- maior grupo de meios de comunicação da Argentina --, aceitaram ser submetidos a testes voluntários de DNA para esclarecer se são filhos biológicos de desaparecidos políticos da época da ditadura (1976-1983).
Marcela e Felipe Noble Herrera aceitaram um novo exame de DNA para "acabar com o estado de angústia ante seus próprios desejos", disse o advogado dos irmãos, Horacio Silva.
Os jovens aceitaram ser submetidos aos exames e confrontá-los com amostras de DNA dos familiares de desaparecidos durante a ditadura, depositadas no Banco Nacional de Dados Genéticos, depois que o Tribunal de Apelações argentino decidiu há duas semanas limitar a comparação com casos registrados até julho de 1976.
"Dado o contexto e as condições que sofreram e, sobretudo, ante os efeitos gerados na saúde de sua mãe [Ernestina Herrera de Noble] e com o único objetivo de encerrar o caso, tomaram a decisão de fazer o exame e também aceitaram que a comparação seja feita com todas as famílias que tenham dados genéticos no banco", disse o advogado.
Em sua decisão de junho, o Tribunal de Apelações também havia confirmado uma resolução da Câmara Federal de Apelações de San Martín (periferia noroeste de Buenos Aires) para que os jovens fossem submetidos a um exame compulsório de sangue, conforme autorizado pela lei.
Em maio de 2010, por decisão da juíza, entraram na casa dos irmãos para pegar amostras contidas em escovas de dentes e de cabelo, mas o banco de dados determinou que as mostras não eram válidas para análise, pois apresentavam vários perfis genéticos.
O grupo Avós da Praça de Maio suspeita que os jovens sejam filhos roubados que nasceram durante o cativeiro de seus pais, no regime militar.
"É uma notícia alentadora porque isto é o que queremos há mais de 10 anos. Finalmente se lançará luz sobre esta questão", disse Estela de Carlotto, presidente da instituição humanitária.
A decisão dos jovens, adotados em 1976 quando tinham meses de idade, ocorre 10 anos após o início do processo judicial que incluiu a detenção em 2003 por algumas horas da mãe adotiva dos jovens, Ernestina Herrera de Noble, de 86 anos.
Os irmãos dizem que a adoção foi legal e que se sentem vítimas de uma "perseguição" e "presos pelos ataques" do governo da presidente Cristina Kirchner. O Grupo Clarín tem sérios enfrentamentos com o governo da presidente.
Quase 500 bebês, filhos de desaparecidos, foram roubados e adotados durante a ditadura, segundo o grupo, cujo trabalho permitiu encontrar 103 deles, que recuperaram suas identidades.
Cerca de 30 mil opositores desapareceram na ditadura, segundo organismos defensores de direitos humanos.
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