Cerca de 10 mil pessoas vão morar no Residencial Vista Bela, o maior canteiro do programa federal. Conjunto fez disparar a demanda por materiais de construção na região
Minha Casa dá origem a “minicidade” em Londrina
Serão ao todo 2.712 unidades habitacionais, entre casas e apartamentos, voltadas para famílias com renda de até três salários mínimos. O local terá 17 ruas, 31 quadras e 90 prédios.
Empresas “importam” mão de obra do campo
A construção civil vem atraindo mão de obra do campo. Há um ano e meio Tetsuo Kumizaki, de 42 anos, trabalha no canteiro do Minha Casa Minha Vida em Londrina. Nascido em Assaí, no Norte Pioneiro, ele trabalhava como safrista, trabalhando na colheita da soja e do trigo. Antes disso, colhia uva na sua cidade natal. “Resolvi arriscar, já que o trabalho de safrista é sazonal. E a construção é um setor onde não falta emprego e paga melhor”, diz.
Kumizaki conta que no início achava que seria difícil se adaptar a uma atividade com a qual não estava acostumado, mas que acabou se supreendendo. Ele começou como servente e logo foi promovido para a área de transporte de materiais. “Como eu sabia usar trator na roça, me pediram para usar o trator aqui também”, brinca. Agora ele trabalha na inspeção de materiais e, assim que a obra terminar, deve ir para outra empreitada, com as mesmas construtoras.
De 15 em 15 dias Kumizaki vai para casa, onde a irmã tem uma chácara onde planta uva, limão, abacate. “Hoje a construção dá muita oportunidade de crescimento, mais do que o campo”, afirma.
Segundo Edvaner Consalter, um dos engenheiros que coordena a construção, a falta de mão de obra local obrigou as empresas a “importar” pessoal de outras cidades da região. Muitas dessas pessoas vieram da zona rural de municípios como Rancho Alegre, Bela Vista do Paraíso e Sertanópolis. “Mas chegamos a ter, no pico da obra, trabalhadores até do Maranhão e do Paraguai”, lembra. (CR)
O projeto está sendo erguido em um terreno antes ocupado pela agricultura, principalmente cultivo de soja e trigo. Quem percorre o canteiro de obras pode ver as plantações de soja e milho nas áreas vizinhas do empreendimento. “É incrível como isso aqui se transformou em pouco mais de um ano”, comenta Edvaner Consalter, um dos engenheiros que coordenam o empreendimento, que está sendo tocado pelas construtoras londrinenses Terra Nova, Artenge e Protenge. O Residencial Vista Bela fica nas proximidades da região dos Cinco Conjuntos, área de habitação popular que surgiu na década de 80.
Dentro de 30 dias, as primeiras famílias escolhidas pela Cohab devem começar a morar no primeiro lote que será entregue, de 178 casas. Ao todo, o projeto tem cinco etapas de entrega. Entre outubro e novembro, 41 prédios receberão os primeiros moradores.
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon) em Londrina, Gerson Guariente Júnior, mesmo após a conclusão da Vista Bela o déficit habitacional na cidade vai permanecer entre 5 mil e 6 mil unidades emergenciais.
Efeito multiplicador
A demanda potencial da minicidade é tão grande que, mesmo antes de o projeto estar completo, empresas dos setores de comércio e serviços começam a se movimentar para atender as famílias que vão morar no empreendimento.
As três construtoras que tocam a obra estão investindo na construção de um centro comercial, que terá 25 lojas. Orçado em R$ 5 milhões – incluindo o terreno –, o empreendimento terá supermercado, lotérica, farmácia, dentre outros, explica Consalter.
Cimento escasso
Para se ter uma ideia do tamanho do projeto, a obra do MCMV em Londrina chegou a comprometer toda a produção de cimento e de tijolos da região. “A indústria não estava preparada para atender a essa explosão de demanda. Os nossos pedidos por mês equivaliam muitas vezes à produção de um ano dessas fabricantes”, lembra Haroldo Yamaguti, da Terra Nova Engenharia.
Outro problema foi a falta de mão de obra. A solução foi adotar novos métodos construtivos e comprar equipamentos para aumentar a produtividade da obra, além de treinar pessoal, inclusive mulheres, para trabalhar na área de acabamento.
O maior problema, no entanto, foi o fornecimento de cimento, principalmente durante o pico da obra, em meados do ano passado. Mas ainda hoje a situação não está normal. “Temos que comprar a granel. Catorze caminhões fazem esse trabalho, o que obviamente encarece nossos custos”, diz Yamaguti. Segundo ele, como o cimento é perecível – dura no máximo 30 dias –, as construtoras são obrigadas a manter um estoque regulador baixo, de 2 mil sacos de 50 quilos. A obra consome 20 mil sacos por mês, e a forte procura tem impacto nos preços. “Pagávamos R$ 17 pelo saco e agora estamos pagando R$ 22”, conta.
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