Ofensiva síria cresce em meio a denúncias de crise humanitária
O exército sírio entrou neste domingo na cidade de Jisr al Shughur (província de Idleb, noroeste) onde foram registrados violentos confrontos com grupos armados, segundo o regime, que foi acusado por Washington de provocar uma crise humanitária com sua violenta repressão.
Apesar dos protestos e sanções internacionais, o regime do presidente Bashar Al Assad, que assegura estar combatendo "grupos armados", continua disposto a acabar de forma sangrenta com a revolta iniciada há três meses.
A emissora estatal síria informou neste domingo que o exército tomou o controle total da cidade de Jisr al Shoghur, onde os militares sírios realizam operações contra o que o regime qualifica de "grupos armados" desde sexta-feira.
Segundo a mesma fonte, o exército retirou dez cadáveres de membros das forças de segurança de uma vala comum, a maioria dos quais tinha a cabeça e as extremidades decepadas.
Cidade de 50.000 habitantes, Jisr al Shughur está quase deserta há uma semana devido aos combates que ocorrem na região. O regime afirma que se trata de confrontos com "grupos criminosos", mas as testemunhas falam de um motim e de uma operação de limpeza metódica e sangrenta por parte das autoridades.
"Todo mundo foi embora, não restou nada", afirmou Abu Talal, um camponês de 45 anos que mora em uma deserta colina com sua família.
O exército entrou na cidade depois de desativar os explosivos e cargas de dinamite colocados pelos grupos armados nas pontes e ruas, segundo a TV estatal.
"Dois homens armados morreram e um grande número de pessoas foi preso", afirmou ainda a fonte.
Um militante dos direitos humanos informou, por sua vez, que a cidade é palco de intensos bombardeios. Segundo a fonte, há pelo menos 200 tanques rodando pela cidade.
Na semana passada, as autoridades afirmaram que 120 policiais foram mortos em Jisr al Shughour por "grupos armados", sendo que 82 em um ataque contra o Quartel General da Segurança.
Os opositores, testemunhas e desertores contestaram a versão oficial e afirmaram que os policiais foram mortos num motim.
VIOLÊNCIA
Nos últimos dias, a repressão tem sido particularmente violenta em Idleb, a 330 km de Damasco. A onda de violência assola a Síria três meses após o início da revolta popular contra o regime de Bashar Al Assad.
Enquanto os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU não chegam a um acordo sobre uma resolução que condene a repressão, os Estados Unidos exigiram que "cessem imediatamente a violência e brutalidade".
Na sexta-feira, numa violenta repressão em Maaret al Numan, nos arredores de Jisr al Shugur, os militares mataram cerca de dez civis ao disparar contra dezenas de milhares de manifestantes, de acordo com ativistas e testemunhas.
A TV estatal acusou "grupos terroristas armados" por um ataque ao quartel das forças de segurança de Maaret Al Numan e de ter ateado fogo a plantações ao redor de Jisr al Shugur. No entanto, testemunhas garantem que foram os soldados quem incendiaram os campos de trigo da região.
Neste sábado, o exército sírio chegou à cidade de Jisr al Shugur, na província de Idleb. O regime havia anunciado na véspera uma operação militar "a pedido dos habitantes".
Em apoio a Jisr Al Shugur, dezenas de milhares de pessoas protestaram na sexta-feira em todo o país, numa convocação dos militantes pró-democracia.
De acordo com ativistas dos Direitos Humanos, vinte e cinco pessoas foram mortas pelos militares que repreendiam esses movimentos.
Devido às restrições impostas pelo regime, os jornalistas não podem transitar livremente pelo país e as informações recebidas por fontes independentes nunca são confirmadas pelo governo.
Vários desertores do Exército, refugiados na fronteira turca, relataram a brutal repressão exercida por suas unidades contra os movimentos de protesto. Eles também falaram do medo de alguns soldados, ameaçados de morte caso deixem as Forças Armadas.
Desde 15 de março, a repressão já deixou na Síria mais de 1.200 mortos, 10 mil presos e a fuga de outros milhares.
REFUGIADOS
Apenas na madrugada deste domingo, cerca de 400 sírios cruzaram a fronteira turca e agora chega a 5.051 o número de refugiados provenientes da Síria e instalados em acampamentos no sul da Turquia, informou a agência de notícias Anatolia.
Centenas de sírios fugiram nos últimos dias para a Turquia.
Os atuais três acampamentos estão instalados na localidade de Yayladagi, mas a organização Crescente Vermelho já começou a montar outros dois em Altinozu e Boynuyogun, com capacidade para 4.000 e 5.000 pessoas, respectivamente.
A maioria dos sírios fugiu da cidade de Jisr al Shughur, 40 km da fronteira turca, onde as forças de segurança sírias lançaram uma grande operação.
Na véspera, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, reiterou sua "profunda tristeza e preocupação" pela situação na Síria.
"Estou muito triste e muito preocupado com o que está ocorrendo na Síria. Fiz muitas declarações e falei com o presidente (Bashar al Assad) muitas vezes, pessoalmente, para dizer a ele que deve tomar ações imediatas e decisivas e escutar seu povo e atender suas necessidades", disse Ban.
"Sinto-me muito triste pelo fato de tanta gente ter morrido", completou na coletiva de imprensa na qual estava acompanhado do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos.
Na sexta-feira, o secretário-geral da ONU condenou o uso da força militar contra os manifestantes na Síria, que qualificou de "inaceitável", segundo seu porta-voz, Martin Nesirky, em Nova York.
Ban tinha se referido particularmente a uma nova operação no povoado de Jisr al Shughur.
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