Nos últimos dias, o caso de uma blogueira síria homossexual ganhou destaque na cobertura da onda de protestos no mundo árabe. Amina Araff, nome com o qual eram assinados os posts no blog "A Gay Girl in Damascus" ("Uma lésbica em Damasco", em tradução livre), usava a internet para fazer denúncias de abusos de direitos humanos na Síria.
O trabalho ativista transcorreu até a última quinta-feira, quando um post assinado por quem seria uma prima sua, noticiou o sequestro de Amina. Mas o caso, que começou como preocupação internacional, virou ceticismo jornalístico, à medida que repórteres e meios de comunicação começaram a indagar, se, de fato, Amina Araff existia. "Será que alguém chegou a conhecê-la?", indagava, metodologicamente, uma matéria do Washington Post, deste domingo.
As dúvidas finalmente se dissolveram neste domingo com um novo post no "Gay Girl in Damascus", confirmando as principais suspeitas: Amina Araff não existe, e mais que isso, não é nem mulher, nem síria, nem lésbica - mas, de fato, um homem americano heterossexual. A Amina Araff virtual corresponde, na realidade, a Tom MacMaster - segundo o Post, um ativista americano, atualmente em Istambul, na Turquia, e casado com uma mulher doutoranda em Relações Internacionais.
No post "póstumo" de Amina Araff, MacMaster admite que não esperava que seu alter-ego pudesse alcançar tamanha popularidade. Ele defende que, embora muito do blog seja produto da ficção, suas intenções são legítimas: chamar atenção para a situação deteriorante na Síria, país onde a onde de protestos tem, na figura do presidente Bashar al-Assad, encontrado dura repressão. Confira abaixo a íntegra da confissão, intitulada "Desculpas aos leitores":
Nunca esperei este nível de atenção. Enquanto a voz da narrativa pode ter sido ficcional, os fatos deste blog são verdadeiros e não deturpadores quanto à situação no solo. Não acredito que eu tenha causado mal a pessoa alguma - eu sinto que criei uma importante voz para as questões sobre as quais muito me preocupo.
Eu somente espero que as pessoas deem muito atenção às pessoas do Oriente Médio e às suas lutas neste ano de revoluções. Lá, os eventos estão sendo definidos por pessoas que os vivem diariamente. Eu meramente tentei torná-los mais claros para os espectadores ocidentais.
Esta experência apenas lamentavelmente confirmou meus sentimentos em relação à cobertura geralmente superficial do Oriente Médio e à capacidade opressora de novas formas de orientalismo liberal.
Eu fiquei, não obstante, realmente tocado pelas reações dos leitores.
Saudações,
Tom MacMaster,
Istambul, Turquia
12 de Julho de 2011
O único autor de todos os posts deste blog.
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