Os bombeiros libertados no Rio de Janeiro foram recebidos na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) com um "tapete vermelho", estendido da praça VX até o prédio do Parlamento. Os militares acampados nas escadarias colocaram a faixa vermelha no chão para recepcionar os companheiros que estavam detidos no Quartel Central de Charitas, em Niterói, na região metropolitana do Rio.
O grupo saiu de Charitas às 10h25 e seguiu em dez ônibus para a Estação Araribóia, no centro de Niterói. Lá pegaram uma barca e seguiram para a capital, aonde chegaram às 12h10.
Momentos difíceis
Em meio a euforia pela liberdade após sete dias detido no Quartel de Charitas, o cabo Carlos Alberto dos Santos Lima, 41 anos, exibia uma cartela de comprimidos e uma chapa de raio-x do pulmão, tirada na sexta-feira depois de se consultar com o médico da corporação. "Estou com pneumonia. E o pior que não sou o único. Tem pelo menos uns 10 bombeiros nessa situação", desabafou.
Carlos tem certeza de que a doença foi contraída durante a prisão. "Dormimos em colchonetes finíssimos. Fez muito frio nos últimos dias. Dava para sentir o chão gelado. Sem falar que na primeira noite, após a confusão no QG, lá na corregedoria interna dos bombeiros, nós dormimos dentro de um ônibus escolar. Tudo isso favoreceu o aparecimento da doença", disse.
Técnico de enfermagem, Carlos trabalha na ambulância do 1º Grupamento de Socorro de Emergência (GSE) de Cabo Frio, na região dos lagos, há 14 anos. Para garantir o sustento da família, faz plantão na Unidade de Pronto-Atendimento da cidade e trabalha como segurança particular. "A gente não tem que fazer bico nem adoecer por causa da corporação. Somos honrados, somos heróis", disse.
Seis quilos mais magro, olhos avermelhados e mãos trêmulas, o guarda-vida Júlio César Ferreira Alves, 33 anos, mostrava seu alvará de soltura. "Não passamos fome, mas o frio foi insuportável, sem falar que, emocionalmente, estou muito abalado", admitiu o militar.
Casado, pai de dois filhos, Júlio César não escondeu a revolta. "Os primeiros dias foram difíceis, porque a distância da família me atrapalhou muito. Não nego que estou psicologicamente arrasado, mas a luta tem que continuar. A única coisa que quero é abraçar meus filhos e dizer: papai voltou", revelou.
Guarda-vida do Piscinão de Ramos, Júlio César é um dos 36 militares que foram remanejados quando a campanha salarial dos bombeiros ganhou as ruas. "Nossa luta é por pura dignidade, por isso a população do Rio nos apoiou. Eu só quero dar o melhor para minha família e servir bem a nossa população", disse ele, que completou 14 anos de corporação.
Um dos líderes do movimento dos bombeiros, o primeiro-sargento Valdelei Duarte, 51 anos, comemorou com o filho Wallace Vander Moreira Duarte, 25 anos, a chegada dos alvarás de soltura no Quartel de Charitas. "Vivemos uma mistura de sentimentos. Alegria pela liberdade que chegou, mas tristeza por tudo que aconteceu. Não precisávamos estar presos", lamentou Valdelei.
Há 30 anos na corporação como guarda-vida na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, Valdelei foi transferido para o Departamento Geral de Pensionistas, no Centro, e depois foi enviado para o Piscinão de Ramos, em companhia de outro líder do movimento, o cabo Benevenuto Daciolo. "A luta tem sido dura e suportar essa prisão só foi possível graças à presença do meu filho", disse.
Com apenas três anos de profissão, o soldado Wallace se espelha no pai. "Sou guarda-vida porque sempre ouvi ele contar histórias incríveis de salvamento, o que para mim soava como atos de heroismo. Nós temos perfeita noção que somos heróis diariamente, em cada gesto, em cada vida salva", comentou.
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