Delegado que investigou acidente que culminou na morte de Marcelo da Silva, aos 10 anos, relatou inquérito à Justiça confirmando intenção de matar
Mulher é indiciada por homicídio doloso
O delegado Rogers Elizandro Jarbas, do Centro Integrado de Segurança e Cidadania de Cáceres, indiciou Sandra Giselli Tomaz, de 34 anos, por homicídio doloso, depois de ter atropelado e esmagado as pernas do menino Marcelo Arruda da Silva, de 10 anos. A criança morreu há uma semana em decorrência do acidente. Contra a condutora pesa o fato de ter dirigido sem ser habilitada e a acusação de estar embriagada na hora do fato. O inquérito foi encaminhado ontem à 3ª Vara Criminal de Cáceres.
Quinze pessoas foram ouvidas e o delegado afirma que ainda há algumas diligências a serem concluídas. “São informações complementares, que não irão alterar o rumo das investigações”. Sandra teve a prisão decretada no dia 3 de junho e foi presa após depor por mais de três horas no Cisc. Na segunda-feira, foi transferida para a Cadeia Pública de Araputanga, pois a carceragem feminina de Cáceres está em reforma há mais de dois anos.
No início do inquérito, nove testemunhas confirmaram em depoimento que Sandra estava em visível estado de embriaguês quando atropelou a criança. Uma das testemunhas afirmou que viu Sandra bebendo horas antes do acidente, em companhia do marido, o cabo PM Abel Cebalho de Souza, na casa de terceiros. Outra afirma que viu, após o acidente, o militar abrindo a porta do carro e retirando algo. Indagado sobre o que fazia, ele teria respondido que o carro era dele.
O acidente aconteceu por volta das 17 horas do dia 29 de maio no bairro Cohab Nova. Ao passar por um quebra-molas e virar à esquerda, Sandra perdeu a direção e, ao invés de frear, acelerou o carro, entrando na casa de Marcelo. Ela bateu no padrão de energia em frente ao imóvel, que caiu, e invadiu a sala da casa. O garoto estava sentado na porta, fazendo uma pipa. Ao seu lado estavam dois amiguinhos, que conseguiram correr e escapar do atropelamento. Marcelo não teve a mesma chance. Suas pernas foram esmagadas.
Socorrida pelo Corpo de Bombeiros, a criança foi encaminhada para Cuiabá, onde teve as pernas amputadas abaixo do joelho. Sobreviveu por uma semana, tendo morte cerebral na noite de 2 de junho. Na manhã seguinte, após muita relutância, sua mãe consentiu que os aparelhos que mantinham o coração de Marcelo batendo fossem desligados. O garoto foi sepultado em Cáceres no dia 4, quando completaria 11 anos de idade. Na hora do seu sepultamento, centenas de pessoas se despediram dele cantando “parabéns”.
SINDICÂNCIA - A provável alteração da cena do crime, ação que teria sido praticada por policiais da guarnição que atenderam a ocorrência, também está sob investigação. Não só da Polícia Civil, mas também pela Corregedoria da Polícia Militar, que abriu sindicância. Segundo o comando da PM em Cáceres, o resultado da sindicância pode gerar penalidades que vão desde uma simples advertência como a responsabilidade criminal. Na quinta-feira foram ouvidos o sargento Alex Kasinski e o soldado Peres. Eles afirmaram que só permitiram que o carro fosse retirado do local por um guincho porque um advogado da família teria dado a ordem. O advogado, que na verdade é um vizinho da família, foi ouvido e nega a informação.
O cabo Abel, marido da acusada, que estava de folga, foi ao local assim que ocorreu o acidente e chamou o guincho. Algumas pessoas dizem que o objeto que ele tirou do carro foi o aparelho de som. Outras dizem que um dos policiais tirou uma caixinha de latas de cerveja. Ouvido em depoimento, Abel negou e disse que esteve no local apenas para dar apoio à esposa. Ele tirou Sandra de lá e a apresentou no dia seguinte à polícia.
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