Documentário mostra economia sob viés familiar
Na transição entre 1999 e 2000, dois anos antes do fim da era FHC, o Brasil estava mergulhado em incertezas econômicas.
Meses antes, o real sofrera uma maxidesvalorização, e o país se viu obrigado a recorrer a um pacote bilionário de socorro do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Naquela virada para o ano 2000, a economia estava em recessão, embaçando o período de euforia e de crescimento da renda trazido seis anos antes pelo Plano Real. Nesse contexto se deram as filmagens da primeira parte de "Família Braz - Dois Tempos", dirigido por Arthur Fontes e Dorrit Harazim.
Vencedor do festival É Tudo Verdade 2011, o documentário estreia hoje e mostra dois grandes panoramas de uma única família da Vila Brasilândia, periferia da zona norte de São Paulo.
O "segundo tempo" foi filmado dez anos depois, no ano passado, quando o Brasil cresceu 7,5%.
Entre esses "dois tempos", o país mudou para melhor, ao menos em termos de distribuição da renda. Mais de 30 milhões de pessoas ascenderam à chamada classe C (hoje majoritária) e cerca de 8 milhões entraram na A/B.
Embora independente das políticas de assistência social e da profusão de bolsas que marcaram o governo Lula, a família Braz surfou nesse novo cenário nacional.
Divulgação
Cena de "Família Braz - Dois Tempos", de Arthur Fontes e Dorrit Harazim, que mostra economia sob viés familiar
Ao contrário de milhões que passaram só a ter mais bens de consumo (muitos por meio de um forte endividamento), os Braz fizeram uma ascensão qualitativa.
Os quatro filhos adolescentes de 2000 estão encaminhados em 2010. Têm sonhos de consumo prosaicos como viagens, plástica nos seios e carros novos. Mas falam em estudar inglês, mandarim e em fazer pós-graduação.
"O que mais nos surpreendeu na família Braz, e isso talvez seja único, ou bem mais raro hoje em dia, foi a força dos laços e valores familiares, que não se esgarçaram", afirma Dorrit.
A diretora (e o filme) destaca o papel da matriarca dos Braz, dona Maria. "Ela desponta como o norte da casa e daquela família."
Mas é Toninho, o pai encanador, de educação básica e incansável trabalhador, quem paga as contas até que os filhos dessa família bem estruturada se firmem.
A ascensão social e intelectual dos Braz, e a diferença entre os "dois tempos", é quase que desnecessariamente ressaltada com cenas em preto e branco em 2000 e coloridas em 2010.
Entre os dois cortes, o documentário revela os Braz como que saindo de uma caverna escura e precária em direção a um ambiente mais iluminado. Não apenas por novos bens, mas por vontade de conhecimento e otimismo.
O diretor Arthur Fontes sublinha um trecho desconcertante do filme, quando dona Maria diz, lá em 2000, que morre de medo de São Paulo. "Em 2010, a cidade já não a assusta mais."
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