Bancos estrangeiros lamentam saída de ex-ministro do cargo
A demissão de Antonio Palocci não passou em branco na avaliação de analistas do mercado financeiro. Em relatórios enviados ontem a clientes e comentários feitos à Folha, eles lamentaram a saída do ministro, tido como um "defensor" da austeridade fiscal do governo.
"Ele sempre teve uma visão sobre política econômica equilibrada, favorecendo também a retomada de reformas estruturais", disse o diretor de mercados emergentes do Goldman Sachs, Paulo Leme, por e-mail.
David Becker, da Merrill Lynch, escreveu em nota que "a notícia é claramente negativa". Para ele, Palocci era "ator-chave em eventual deterioração macroeconômica" e os mercados não estão reagindo porque já vinham "digerindo a notícia.
Também em relatório feito por seus economistas, o banco de investimento português Banif disse que Palocci é "insubstituível" nas políticas pró-mercado". Para o banco, não está claro se a nova ministra Gleisi Hoffmann será habilidosa o suficiente.
A biografia de Gleisi foi tema da corretora japonesa Nomura. O economista Aloísio Teles lembra que, embora ela tenha se filiado ao PT em 1989 e ocupado a diretoria financeira de Itaipu, é "relativamente uma novata".
MERCADO
Apesar dos comentários, o mercado ontem quase não reagiu à queda do ministro. Segundo Paulo Leme, do Goldman Sachs, não deve haver nenhuma mudança na política econômica.
O Ibovespa fechou em queda de 0,29%, e o dólar subiu 0,32%. Mas a avaliação era de que os investidores respondiam ao cenário negativo no exterior. Pregões nos Estados Unidos e em Londres também fecharam em queda.
Já o dólar ganhou força sobre diferentes moedas, como o euro e o dólar australiano.
Representantes de bancos e consultorias brasileiras se mostraram menos preocupados com a saída de Palocci do ministério da Casa Civil.
Ex-diretor do Banco Central e sócio da Mauá Investimentos, Luiz Fernando Figueiredo acredita que o BC deverá ganhar força.
Ele acha que a tendência é o governo sinalizar que o combate à inflação é uma estratégia ditada pela presidente Dilma Rousseff e não por seu ex-ministro: "Nessas ocasiões, a tendência do governo é ser conservador".
Para o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, o combate à inflação não mudará sem Palocci. "A nova ministra me parece muito comprometida com o equilíbrio macro saudável. Ela tem perfeita noção de restrição orçamentária", diz, ressaltando que não acredita que o BC aja sob pressões políticas.
O economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, diz que a saída de Palocci "deixa o governo mais fraco", mas não afeta o combate à inflação.
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