Quebra se aproxima de 20% e se confirmada poderá tirar aproximadamente meio bilhão da receita agrícola estadual
Agricultura: perdas acima do previsto na segunda safra em Mato Grosso
As perdas na safrinha de milho, em Mato Grosso, a chamada segunda safra, estão duas vezes acima do inicialmente previsto. Conforme levantamento realizado na semana passada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a produção está 19,9% menor em relação ao ciclo passado (09/10), enquanto a área plantada encolheu 10%. Em abril, por exemplo, a expectativa era de que o plantio tardio do cereal gerasse perdas de cerca de 10% sobre a produção.
Pelos novos números, a safra deixa o recorde 8,41 milhões de toneladas (t) para somar 6,73 milhões de t. Se confirmados, o Estado deixará de colher mais de 1,67 milhão de t, o que em cifras - caso viesse a comercializar pelos preços atuais - tira de circulação cerca de R$ 500 milhões, ou meio bilhão, considerando valor médio de R$ 18 pela saca no Estado. “É um dinheiro que deixa de girar na economia local e na receita do produtor”, destaca o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT) e também produtor Carlos Fávaro.
Pontualmente em algumas regiões, há relatos de perdas acima de 60%. Nessas localidades o plantio se estendeu pela segunda quinzena de março, período não mais recomendado ao plantio do cereal. Fávaro acredita que ao final da colheita – recém-iniciada no Estado – o volume perdido se aproxima de 2 milhões de t, “ou seja, a perda financeira será ainda maior e fica a preocupação com o cumprimentos dos contratos”, frisa.
CONCENTRAÇÃO
A quebra de produtividade, conforme o Imea, está concentrada em três regiões, oeste (-17,8%), médio norte (-13,3%) e centro-sul (-12,5%). A médio norte responde por mais de 48% do total estadual e tem estimativas de colher 3,28 milhões de t ante 4,33 milhões de t do ano passado.
Apesar de números novos em relação à performance da safrinha mato-grossense, as causas da quebra já são conhecidas pelos produtores antes mesmo do período de plantio ter sido finalizado. De acordo com produtores, a queda “vertiginosa” da produção era esperada em função de fatores climáticos e mercadológicos que levaram a novas estratégias no campo.
Em Mato Grosso, o milho é cultivado em áreas inicialmente destinadas à soja, por isso o cereal é uma cultura de segunda safra no Estado. O atraso no plantio da soja, ocasionado pela estiagem prolongada entre agosto e outubro do ano passado, retardou o plantio da oleaginosa e concentrou a semeadura em uma mesma época e, consequentemente, para mesmo período de colheita. Passada a seca as chuvas de verão complicaram a colheita, o que também retardou o início do plantio do milho, levando muitos produtores a excederem a ‘janela de plantio’ que se fechou em 28 de fevereiro. Avançar sobre março significa perder a temporada de chuvas, essencial ao desenvolvimento das lavouras. A ‘janela’ é o período de melhor desenvolvimento à planta.
DECISÃO
Como explica Fávaro, o atraso na soja levou muitos produtores a reverem sua estratégia e dentro desse mesmo período de decisões houve forte elevação de preços ao algodão no mercado internacional, ocasionando a migração das áreas - até então destinadas ao milho - para o algodão. “Para complicar, mesmo com a janela de plantio encerrada, muitos arriscaram a semeadura do milho em março porque naquele momento o preço internacional do grão também se elevou e, por conta disso, cerca de 500 mil hectares, ou praticamente um terço da área, estavam totalmente fora da janela de plantio”.
Teoricamente, como destaca Fávaro, o recuo da produção aliado à forte pressão da demanda internacional, principalmente vinda da China, pode manter os preços em alta e fazer com que os produtores sejam recompensados – via preços melhores – pelos impactos sobre a produtividade. No entanto, como reforça o próprio Fávaro, mais de 55% das 6,73 milhões de t estão vendidos de forma antecipada, cabendo ao produtor apenas colher e entregar (cumprir contratos).
AUMENTO
“A tendência é de que os preços aumentem, visto a existência de um consumo em ascensão e uma produção menor do que o esperado, mas é preciso saber o que há de fato em mãos para só então sair vendendo”. Questionado sobre o momento, o ruralista frisa: “De fato, não é mais a hora de vender e sim de esperar a reação do mercado frente a esta nova realidade, porém mesmo com cotações em elevação corremos o risco de não ter em mãos produção suficiente para compensar aquilo que não conseguimos colher”.
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