Nigéria produz mais filmes que EUA e ganha apelido de Nollywood
O ano de 2006 foi histórico para Nollywood: segundo dados da Unesco, a indústria cinematográfica nigeriana despontava como a segunda do mundo, atingindo a marca de 872 filmes. À frente de Hollywood, com 485, ficou atrás somente de Bollywood --em Mumbai realizaram-se, na época, 1.091 longas.
Num escritório próximo do Teatro Nacional, em Surulere --o bairro dos artistas de Lagos, onde nasceu e se desenvolve a indústria-- Segun Arinze, 46, protagonista de cerca de 150 filmes, afirma que Nollywood é o novo negócio da Nigéria, o país mais populoso do continente.
"E também o novo entretenimento da África", diz.
O mercado de US$ 250 milhões (cerca de R$ 395 milhões) gera 1 milhão de empregos.
A remuneração dos atores que dão cara à produção local vai de US$ 300 (R$ 475) a vários milhares de dólares, em filmes de orçamento igualmente variável: de US$ 10 mil a US$ 100 mil (R$ 15,8 mil a R$ 158 mil), gastos em produções que cobrem de uma semana a um mês.
Nollywood nasceu com o mercado de VHS na Nigéria. Aproveitando os avanços tecnológicos, vendedores decidiram promover os aparelhos de videocassete oferecendo fitas gravadas de forma caseira. Assim nasceu, em 1992, "Living in Bondage" (vida de servidão).
Mesclando suspense e drama, esse é considerado o primeiro filme de Nollywood. Nele, um homem é perseguido pelo fantasma de sua mulher, cuja morte ele causou em troca de uma fortuna.
Passados 19 anos dessa estreia, Ngozi Nwosu, uma das atrizes do filme e hoje celebridade local, atua nos mais diversos gêneros: drama, comédia, romance, tudo com algo de magia negra e vodu.
"Só mesmo as de terror não pegaram", diz a atriz, cuja carreira começou no teatro, há 27 anos, enquanto a maquiadora lhe aplica uma peruca, no bar do hotel 118, em Surulere.
Enquanto muitos atores experientes surgiram nas escolas de teatro entre os anos 1960 e 1980, manifestando "respeito pela profissão", hoje milhares de nigerianos sonham atuar em Nollywood.
FORÇA DA GRANA
Hafiz, outro veterano do teatro, afirma que é "mais por amor ao dinheiro que à arte". Um dos debates vigentes na indústria atual é o vazio de conteúdo. "Antes se escrevia sobre a independência, a democracia e a política", diz ele. "Hoje, nossas histórias são superficiais."
A corrupção na Nigéria, diz, "permeia toda a sociedade". Para ele, o descuido técnico não permite que os filmes ganhem qualidade.
No entanto, segue, "o público está ficando mais exigente, e o cinema nigeriano está sofrendo uma revolução" com a criação de novos profissionais, tanto da técnica como da criação.
Chucks Okoro, 27, dirige "Abelejanyan". Começou há dez anos como assistente de produção e agora estuda para ser diretor, no Instituto Nacional de Cinema.
O fato é que Nollywood, apesar de ter se expandido por toda a África, ainda é muito jovem. "Temos um longo caminho a percorrer", finaliza o veterano Hafiz.
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