Ibmec terá engenharia e cursos em cidades médias
De olho no enorme deficit de engenheiros num Brasil em crescimento, o Ibmec prepara-se para agregar uma politécnica à escola de negócios.
A reformulação está a cargo de VanDyck Silveira, 38, que chegou de Londres, onde era diretor da Duke Corporate Education, para assumir a presidência do grupo.
O resultado esperado da estratégia é a multiplicação do número de alunos, dos atuais 18 mil para 70 mil, em cinco anos. A expansão visa a presença do instituto em cidades médias e a volta para São Paulo.
Na entrevista a seguir, Silveira identifica os nichos de maior demanda futura de profissionais, além da engenharia. Quanto à falta de engenheiros, ele acredita estar relacionada, na origem, à má qualidade do ensino básico no país. O executivo não poupa críticas à política educacional brasileira, em que "o pobre banca o rico".
FOLHA - Como as escolas de negócios estão respondendo ao crescimento econômico do Brasil?
VANDYCK SILVEIRA - O momento é propício para a evolução das cidades de médio porte. Houve aumento significativo, e espalhado pelo Brasil, da renda per capita, e o acesso à educação faz parte da equação dos desejos da classe média, ao lado da casa própria e do carro. Nos próximos cinco anos, planejamos abrir unidades do Ibmec em até 15 cidades ao redor do Brasil. Cidades como Recife, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza, Ribeirão Preto, Campinas saltam aos nossos olhos. A instalação dependerá da capacidade de assimilação local dos alunos. Os cursos vão levar em conta as realidades locais. Em Minas Gerais, a ideia é lançar um curso de engenharia de produção voltado para a área de mineração.
Que áreas do conhecimento serão prioritárias?
O objetivo é aproveitar nossa experiência consolidada em business, finanças, economia e administração para expandir as outras áreas, principalmente as engenharias.
O Brasil tem um deficit de 3 milhões de engenheiros, considerando-se a demanda para os próximos dez anos e se o país continuar crescendo ao ritmo atual.
Não estamos dando conta. Entre janeiro e outubro de 2010, foram emitidos 25 mil vistos de trabalho para estrangeiros altamente qualificados, sobretudo nas áreas de tecnologia e engenharia, o que é algo inédito, porque o Brasil é um país fechado.
Por que faltam engenheiros?
Parte do problema é a péssima qualidade do ensino médio e fundamental. Houve uma degradação do ensino, sobretudo nas áreas de matemática e ciências, exatamente as mais importantes na formação do engenheiro. Com essa base deficiente, muitos dos que passam no vestibular não conseguem dar conta e desistem. Às vezes, a universidade tem de baixar o nível para que todos acompanhem. Mas o engenheiro que essa universidade produz não serve para o mercado.
Como identificar os setores que vão demandar mão de obra quando os atuais estudantes se formarem?
O mais importante é saber quais são os setores de fato dinâmicos. Petróleo e gás, por exemplo. Isso não é coisa temporária. Então se justifica um curso de engenharia energética. Mas não vamos fechar o foco, porque o que mais interessa é a matriz energética. Não posso deixar o meu aluno dependente do pré-sal.
É mais importante ele ter mobilidade profissional?
O aluno precisa aprender a se movimentar em direção à demanda por seu capital humano. Os conhecimentos devem ser transferidos a qualquer área em que o profissional for atuar. Para isso, é importante ele desenvolver, por exemplo, o raciocínio lógico, que se aplica em todas as áreas. O empreendedor precisa buscar a plasticidade em sua formação, não pode ter a cabeça muito enrijecida em relação ao que quer fazer.
Essa plasticidade seria uma forma de escapar da armadilha das bolhas?
Foi o que aconteceu nos anos 90 na área de telecom. Com o boom do setor, criaram-se vários cursos de engenharia de telecomunicações. Mas muitas das pessoas que se formaram ficaram a pé ultimamente. Não há demanda para todos. O problema é que os cursos formaram engenheiros de telecomunicações, não engenheiros que pensem na matriz das comunicações.
Isso resulta de um ensino muito técnico?
Esse é um problema da educação no Brasil. É como se fosse uma doença. Eu mesmo, por exemplo, sou economista, e, há 20 anos, não poderia imaginar que estivesse fazendo o que faço hoje. Mas "sarei" de ser economista. O conhecimento tem de ser uma ferramenta, não uma camisa de força.
Guinadas profissionais de êxito são comuns?
Veja os exemplos. Mark Mobius estudou filosofia e ciência política antes de tornar-se um grande investidor internacional. Alan Greenspan, ex-presidente do banco central dos EUA, é formado em música. Ele só foi estudar economia depois de tocar clarinete profissionalmente. E o Peter Drucker [1909-2005], o maior especialista em gestão do mundo, de quem fui aluno em Los Angeles, era advogado.
No futuro próximo, onde estarão as melhores oportunidades de trabalho?
Uma delas está no setor de serviços acoplados a produtos. No Brasil, isso é feito artística ou tecnicamente, mas a perspectiva deve ser empresarial e comercial. Por exemplo, o design do sapato, que é o maior valor agregado do produto. Outra área é o marketing estratégico, quantitativo, de análise, com uso de econometria.
Qual sua avaliação da política educacional?
Ela obedece a uma lógica absurda. Quem está no topo da pirâmide social recebe um presente da sociedade ao ingressar numa universidade pública. Vindo de uma família abastada, esse estudante já sai com um pé na frente ao nascer. Depois ganha mais uns três pés de vantagem porque recebe estudo gratuito. E quem paga por isso? No caso de uma universidade estadual, como a USP, parte dos fundos vem do ICMS, que é cobrado até no miojo. Ou seja, o pobre banca o rico. Isso é socialmente perverso.
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