China nega pedido dos EUA em aniversário do massacre de 1989
A China rejeitou o pedido dos Estados Unidos para libertar dissidentes e prestar esclarecimentos sobre as vítimas do massacre contra os protestos pró-democracia na praça da Paz Celestial, que faz 22 anos neste sábado.
O dia em que tropas entraram atirando no centro de Pequim, em 1989, matando centenas de pessoas, não foi marcado publicamente na China. Os protestos ocorridos na praça são um tabu para o governo do Partido Comunista, especialmente neste ano, após pedidos por uma revolução no estilo da "primavera árabe".
Em Hong Kong, dezenas de milhares acenderam velas e, segurando flores de jasmim, cantaram por uma China totalmente democrática durante vigília noturna para marcar o aniversário do massacre e condenar as restrições à liberdade e os abusos praticados por Pequim contra os direitos humanos.
O Departamento de Estado dos EUA disse que a China precisa libertar todos os que ainda estiverem presos pela participação nos protestos de 1989.
"Nós pedimos que o governo chinês dê os esclarecimentos públicos mais completos possíveis pelos mortos, detidos ou desaparecidos", disse o porta-voz Mark Toner.
Ao menos cinco pessoas continuam presas por terem participado da manifestação.
O porta-voz do Ministério do Exterior da China, Hong Lei, disse que os comentários dos EUA "acusam sem motivos o governo chinês", segundo comunicado publicado pela agência de notícias estatal Xinhua.
"Nós pedimos que o lado norte-americano abandone a inclinação política e retifique as práticas erradas para evitar a perturbação das relações entre China e EUA."
Neste sábado, a Praça da Paz Celestial estava cheia de turistas, como o normal, sem sinais aparentes de segurança adicional.
Em um parque de Hong Kong, porém, ao menos 150 mil pessoas pediam que Pequim reconheça o massacre de 4 de junho, evento de pungência maior neste ano, dada a forte coerção do governo aos dissidentes.
Dissidentes na China disseram que os controles sobre eles foram fortalecidos.
"Eu não posso sair hoje. Eu fui mantido em casa. Mas eu vou jejuar hoje, como faço em todo aniversário de 4 de junho", disse Zhou Duo, um dos quatro ativistas que negociaram com as tropas para evacuar os estudantes da Praça em 1989, evitando muitas mortes. Mais tarde, ele foi preso por seu papel nos protestos.
"Claro, mais cedo ou mais tarde o 4 de junho será reavaliado e restaurado. Isso é inevitável. A história nunca pode ser completamente apagada."
ESTIMATIVAS
As Mães da Praça da Paz Celestial contabilizaram com nomes e sobrenomes 205 mortos no massacre, mas calculam que esse número representa menos da décima parte de um cálculo que estimam entre 2 mil e 3 mil mortos.
Além disso, milhares de manifestantes foram presos, torturados e em alguns casos executados nos dias posteriores ao massacre, e dezenas deles permanecem em prisão ainda neste sábado, entre eles Jiang Yaqun (de 75 anos), Miao Deshun (48), Yang Pu (47), Chang Jingqiang (43) e Li Yujun (48).
AI WEIWEI
Os governos dos Estados Unidos e de Taiwan pediram na sexta-feira à China que liberte estes presos e freie a onda de detenções, com 200 ativistas detidos desde fevereiro.
Entre eles está o artista e dissidente Ai Weiwei, detido em 3 de abril após anos de oposição ao regime e aberto apoio aos casos de direitos humanos, incluído o de Praça da Paz Celestial.
Por sua vez, grupos de direitos humanos informaram neste sábado que há 14 ativistas ainda detidos desde fevereiro e que na última semana se submeteu a vigilância domiciliária a 12 veteranos de Praça da Paz Celestial, incluindo Zhang e Ding.
TRAUMA
Apesar das detenções e da extrema vigilância que se registra desde sexta-feira à noite tanto na ponte de Muxidi como na Praça da Paz Celestial, um porta-voz oficial destacou na quinta-feira o progresso em direitos humanos na China e justificou a repressão das "turbulências políticas" de 1989 pelo bem da economia.
A Praça da Paz Celestial continua sendo um trauma coletivo na China, como demonstra o poema "O 22º aniversário" escrito pelo então soldado Chen Guang, hoje pintor de 39 anos e um dos poucos militares que confessou sua presença na praça aquela noite.
"Tua vida parou há 22 anos, justo antes da chegada da juventude, mas acredito que tua alma revive, porque cada ano que seguem vivos te põem asas", afirma Chen no poema.
Comentários