Após quatro anos, Egito reabre fronteira com a Faixa de Gaza
O Egito abriu neste sabado a passagem de Rafah, que liga seu território à Faixa de Gaza, cancelando o bloqueio que impôs ao território palestino nos últimos quatro anos, desde que o Hamas tomou o controle da região.
Logo depois da abertura da passagem de Rafah, centenas de palestinos da Faixa de Gaza cruzaram a fronteira em direção ao Egito.
A medida do governo egípcio, que foi fortemente criticada por Israel, ocorre cerca de três meses depois que Hosni Murabak deixou a Presidência do Egito, depois de quase 30 anos no poder.
O governo israelense ainda acredita que armas possam ser levadas para dentro de Gaza por meio da fronteira egípcia, mas o Egito insiste que irá revistar todas as pessoas que passarem pela divisa.
O correspondente da BBC em Gaza Jon Donnison afirma que a decisão de reabrir a passagem de Rafah é simbolicamente importante, representando mais um sinal de que a nova liderança egípcia está mudando a dinâmica do Oriente Médio.
Mesmo com as preocupações de Israel quanto à segurança, Donnison diz que, com eleições presidenciais previstas para o Egito, a mudança de postura provavelmente será popular junto ao público simpático à causa palestina.
Emissão de visto
A passagem de Gaza para o Egito será livre para mulheres de todas as idades e para homens de até 18 anos e acima de 40.
Homens de idades entre 18 e 40 anos terão que obter um visto que será emitido pelo consulado egípcio em Ramallah, na Cisjordânia.
Segundo as autoridades egípcias, a fronteira permanecerá aberta todos os dias a partir deste sábado, das 9h às 17h, exceto nas sextas-feiras e em feriados religiosos.
O morador de Gaza Ali Nahallah, que não havia deixado o local por quatro anos, disse à BBC que as mudanças são benvindas.
"Claro que este é o nosso único ponto de entrada para o mundo externo", disse. "Nós nos sentimos como que vivendo em uma grande jaula em Gaza, então agora nos sentimos um pouco mais confortáveis, e a vida está mais fácil agora", afirmou.
"Meus filhos estão dispostos a viajar para ver outros lugares diferentes de Gaza."
O diretor do Centro de Saúde Mental da Faixa de Gaza, Hussan El Nounou, disse à BBC Brasil que hoje os moradores de Gaza estão "muito contentes".
"Todos falam só disso e sentem uma sensação de alivio, a abertura de Rafah é sem dúvida um passo positivo e teremos mais liberdade de ir e vir", disse El Nounou.
Mas, segundo ele, a abertura de Rafah representa só uma pequena parte da solução do problema do bloqueio à região. "Queremos ter liberdade de visitar nossos parentes na Cisjordânia", disse.
Porém, para que um palestino da Faixa de Gaza possa se deslocar até a Cisjordânia, teria de passar por Israel, e as autoridades israelenses não permitem esta passagem, exceto em "casos humanitários extraordinários".
Cooperação de Mubarak
O ex-presidente egípcio Hosni Mubarak tinha cooperado com a política israelense de bloqueio à Faixa de Gaza desde 2007, quando o Hamas tomou o controle da região.
O governo interino que assumiu o poder no Egito depois da queda de Mubarak declarou sua intenção de mudar a situação em Gaza e, em abril deste ano, o novo ministro das Relações Exteriores do país, Nabil Al Arabi, anunciou a decisão de abrir a fronteira de Rafah "para aliviar o bloqueio e o sofrimento do povo palestino".
O governo israelense, que mantém o controle das demais fronteiras terrestres da Faixa de Gaza, além do domínio do espaço aéreo e marítimo da região, criticou a medida das autoridades egípcias.
"É impensável abrir a fronteira de Rafah", disse o vice-primeiro ministro de Israel, Silvan Shalom, à radio estatal Kol Israel.
"Agora aumenta o perigo de que agentes iranianos e terroristas da Al-Qaeda entrem na Faixa de Gaza", acrescentou.
Para a ONG israelense de direitos humanos Gisha ("Acesso", em tradução livre), a "ampliação da possibilidade de palestinos viajarem para o exterior, através da fronteira de Rafah é um passo positivo, mas não responde à necessidade de se permitir a passagem de mercadorias para a Faixa de Gaza e de pessoas para a Cisjordânia".
A diretora da Gisha, Sari Bashi, disse à BBC Brasil, que Israel continua impondo limitações "rígidas" à importação e exportação de produtos da Faixa de Gaza.
De acordo com Bashi, "Israel viola o acordo de 2005 no qual se comprometeu a respeitar o direito de passagem de palestinos de Gaza para a Cisjordânia".
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