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Internacional
Sexta - 27 de Maio de 2011 às 09:36

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O Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia (TPII) considera ampliar a acusação contra o ex-general sérvio-bósnio Ratko Mladic, detido ontem na Sérvia, por diversos crimes cometidos na Croácia em 1991. A informação foi dada na noite desta quinta-feira pelo promotor-geral do TPII, Serge Brammertz.

"Quando Mladic chegar a Haia vamos considerar a ampliação da acusação", disse Brammertz segundo a agência croata "Hina".

O promotor-geral do TPII assinalou que seu escritório já preparou material para uma possível ampliação nesse sentido.

A Croácia considera Mladic culpado por crimes de guerra cometidos contra civis no país em 1991, quando era comandante do nono Corpo do Exército Popular Iugoslavo (JNA), com sede em Knin, zona transformada na época em capital da rebelde "República Sérvia de Krajina".

A acusação do TPII contra Ratko Mladic se centra por enquanto nos crimes de guerra e lesa-humanidade, além de genocídio, cometidos entre 1992 e 1995 na Bósnia-Herzegovina.

O tribunal da cidade croata de Sibenik condenou em 1992 Mladic a 20 anos de prisão por ter sido assinalado o responsável por bombardeios de instalações civis nessa cidade e em várias outras na área.

Em 1995, Mladic foi acusado pelo tribunal da cidade croata de Split de ter dado ordens a seus soldados para que destruíssem o dique e a central hidrelétrica de Peruca, o que pode ter deixado um grande número de vítimas devido a inundações em vários povoados.

Mladic também é considerado o responsável pelo massacre de mais de cem civis croatas nas aldeias de Skabrnja e Saborsko em 1991.

O interrogatório de Mladic prosseguirá ao meio-dia desta sexta-feira (pelo horário local), sempre e quando seu delicado estado de saúde permitir, informou em Belgrado a televisão pública "RTS".

Citando fontes da Promotoria sérvia de crimes de guerra, a emissora informou que a primeira sessão de perguntas do promotor foi interrompida na noite de ontem devido à delicada saúde do ex-militar, que teve problemas para se comunicar com o juiz de instrução e com os promotores.

NOVA AUDIÊNCIA

Uma nova audiência está marcada para sexta-feira, quando o magistrado tentará novamente tomar o depoimento de Mladic.

Porém, o advogado Saljic disse que o general não reconhece a legitimidade do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia.

"Ele tem consciência de que está preso, ele sabe onde está e ele não reconhece o tribunal de Haia", disse o advogado. Segundo ele, seu cliente não tem condições de saúde suficientes para ser levado à Haia.

O vice-promotor Bruno Vekaric disse que Mladic está usando uma grande quantidade de medicações, mas afirmou acreditar que ele não é instável psicologicamente.

"Minha impressão é que Mladic responde muito racionalmente a tudo que está acontecendo", disse.

REPERCUSSÃO INTERNACIONAL

O presidente dos EUA Barack Obama aplaudiu nesta quinta-feira a "determinação" do presidente sérvio Boris Tadic para prender Mladic.

"Há 15 anos, Ratko Mladic ordenou a execução sistemática de 8.000 homens e meninos desarmados em Srebrenica. Hoje ele está atrás das grades", afirmou Obama em uma nota divulgada por seus assessores na cúpula do G8, que está sendo realizada em Deauville, na França.

"Aplaudo o presidente Tadic e o governo da Sérvia por usa determinação para que Mladic fosse levado à Justiça", disse.

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, comemorou nesta quinta-feira a prisão de Mladic, dizendo que trata-se de uma data histórica.

"É um dia histórico para a Justiça internacional, um passo adiante em nossa resolução de dar fim à impunidade", declarou Ban Ki-moon em Paris, após encontro na sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

Ban expressou ainda seu agradecimento ao governo e ao presidente sérvio, Boris Tadic, "por seus esforços" para prender o ex-general.

A chefe das Relações Exteriores da União Europeia (UE), Catherine Ashton, também elogiou a prisão de Mladic, e disse que ele deveria ser enviado ao tribunal para crimes de guerra de imediato.

"Esse é um passo importante para a Sérvia e para a Justiça internacional", disse Ashton em comunicado nesta quinta-feira. "Esperamos que Ratko Mladic seja transferido para o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) sem demora. A total cooperação com o TPII segue sendo essencial para o caminho da Sérvia rumo a seu ingresso na UE", afirmou.

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) também celebrou a detenção, dizendo que Mladic esteve envolvido em alguns dos "piores massacres na história da Europa moderna".

"Quase 16 anos depois de seu indiciamento por genocídio e outros crimes, sua prisão finalmente dá chance para que a justiça seja feita", disse o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen.

"Ele teve papel crucial em alguns dos episódios mais negros nos Bálcãs e na história europeia, incluindo o cerco a Sarajevo e o massacre de milhares de bósnios em Srebrenica em 1995", disse ele em um comunicado.

Cerca de 100 mil pessoas morreram durante a guerra da Bósnia.

PRISÃO

Tadic anunciou a prisão de Mladic durante coletiva de imprensa. "Detivemos Ratko Mladic hoje de manhã. O processo de extradição está em curso", afirmou Tadic, aludindo à transferência do ex-comandante para ser julgado pelo tribunal de Haia.

Sua detenção é "resultado de uma cooperação completa entre a Sérvia e o Tribunal de Haia", disse ainda o presidente sérvio. "No dia de hoje, fechamos um capítulo da história de nossa região, que nos levará a uma reconciliação completa", acrescentou.

A prisão de criminosos de guerra é o maior obstáculo para a entrada da Sérvia na União Europeia (UE).

A prisão de Mladic ocorre menos de três anos depois da detenção de Radovan Karadic, que foi líder político dos sérvios na Bósnia, ocorrida em julho de 2008 em Belgrado. Outro ex-dirigente dos sérvios na Croácia, Goran Hadzic, continua foragido.






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