O delegado da regional de combate ao crime organizado da Polícia Federal, Brauli Cezar Galloni, respondeu à nota do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que afirmava que as denúncias descobertas na Operação Uragano são frágeis. O delegado, que coordenou a ação, afirmou que as informações sobre o senador e outros parlamentares federais - citados em diálogos entre os investigados presos durante a operação - são elementos que devem ser levados em conta para novas investigações, mas nos devidos foros. Os diálogos foram revelados na terça-feira em reportagem do Terra.
Ele revela que as informações obtidas durante a operação policial que envolvem o senador petista e deputados federais do Mato Grosso do Sul foram enviadas à Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília. Segundo o delegado, as investigações da Operação Uragano focavam outros alvos e acabaram colhendo informações cruzadas, que podem ser levadas adiante com solicitação do Ministério Público Federal (MPF).
"São elementos que necessitam ser investigados, mas não eram o foco e o foro correto no momento, mas lá na frente podem ser investigados. Enviamos as informações para a Procuradoria Geral da República. Após isso, não sei mais o que aconteceu, a Polícia Federal não acompanhou mais o caso, e só atuará se houver alguma determinação de diligência, o que ainda não aconteceu", comentou Galloni.
Em novembro passado, durante o XI Encontro Nacional da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão (CCR) do Ministério Público Federal, realizado em Campo Grande, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que estava analisando a entrada do MPF na investigação de autoridades do Mato Grosso do Sul com foro privilegiado, citados nas investigações da Operação Uragano. De acordo com assessoria de imprensa da PGR, não consta procedimento contra o senador Delcídio no sistema, a menos que ele esteja em segredo de Justiça.
Um dos promotores que cuida do caso, Amílcar Araújo Carneiro afirma que o Ministério Público Estadual opinou pela quebra de sigilo do processo, o que foi aceito pela juíza Dileta Therezinha, da 1ª Vara Criminal do Fórum de Dourados (MS). Entretanto, dias depois, devido ao foro privilegiado do até então prefeito do município, Ari Artuzi, o processo seguiu para o Tribunal de Justiça, onde houve uma decisão monocrática do desembargador Carlos Contar mantendo o segredo de Justiça.
Com a renúncia do prefeito, o retorno do processo para o Fórum de Dourados (MS) e a quebra ou manutenção do segredo de Justiça deve ser reavaliado pela juíza Dileta Therezinha. A reportagem do Terra tentou obter informações sobre o andamento do processo, mas não conseguiu entrar em contato com a juíza do caso.
Conforme apurou a reportagem, tanto o senador Delcídio do Amaral como o deputado federal Geraldo Resende têm seus nomes citados entre as páginas 1.171 e 1.185 e da 1.469 à 1.481 do inquérito 96/2010 da Polícia Federal.
Quanto aos processos por calúnia e difamação que os dois parlamentares movem contra o ex-secretário de governo de Dourados, Eleandro Passaia, não houve qualquer decisão proferida até o momento.
Senador é citado em investigação da PF
O senador Delcídio do Amaral e o secretário nacional de Saneamento Básico do Ministério das Cidades, Leodegar Tiscoski, são citados em áudios contidos no inquérito da Polícia Federal que investiga um suposto esquema de desvios de recursos em obras públicas da cidade de Dourados, a 198 km de Campo Grande. A reportagem do Terra teve acesso com exclusividade a dois áudios, com cerca de duas horas de gravação, que apontam que ambos cobrariam propina para intermediar repasses de verba ao Estado.
As informações foram descobertas durante as investigações da PF que culminaram na Operação Uragano, realizada em setembro de 2010. Na ocasião, 28 pessoas foram presas, entre autoridades políticas, agentes públicos e empresários do Mato Grosso do Sul.
Na gravação, o ex-diretor de Obras de Dourados Jorge Hamilton Torraca fala ao ex-secretário de governo Eleandro Passaia como funcionaria a divisão dos recursos entre o então prefeito Ari Artuzi, o senador Delcídio e o secretário Tiscoski para liberação de recursos em Brasília. As gravações foram realizadas nos dias 5 e 16 de junho de 2010.
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