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Internacional
Segunda - 23 de Maio de 2011 às 10:51

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Para a lenda viva dos montanhistas, Elisabeth Hawley, em seus 87 anos não falta trabalho: em época de alta temporada, a responsável pelo registro oficial das escaladas no Himalaia já tem prevista 90 expedições só para o Everest.

No Nepal há 326 picos próprios para escalada e 100 deles ainda não foram conquistados, mas segundo o Ministério do Turismo, apenas 24 são populares entre os montanhistas, para desespero desta veterana jornalista americana.

"Nesta época, as pessoas escalam o Everest como quem vai a um cruzeiro", disse Elizabeth à Agência Efe, a bordo do emblemático Volkswagen azul claro no qual vai de hotel em hotel para falar sobre as expedições.

"Miss Hawley", como é conhecida, registra há 50 anos ascensões e datas das chegadas ao cume, às vezes até com detalhes minuciosos, como o mais jovem alpinista de cada país a se aventurar no monte mais alto do mundo.

Considerada uma das principais autoridades de montanhismo no Himalaia, ela cataloga e procura por contradições em todas as expedições no Nepal e algumas do Tibet.

Elizabeth se reúne com os montanhistas para apurar se as ascensões foram reais e usa um questionário que inclui datas e detalhes dos acampamentos, e perguntas como ""O que tinha no cume?"" ou ""Quem você encontrou no caminho?"". Se a pessoa quiser ter sua aventura reconhecida, terá que responder a um interrogatório que só ela é capaz de perceber possíveis mentirosos.

"É uma lenda viva", disse à Efe o sueco Robin Trygg, que afirmou ter lido sobre ela "em praticamente todos os livros sobre a montanha". Trygg acaba de fazer 24 anos e se tornou o alpinista mais jovem de seu país a conquistar o Everest.

Miss Hawley chegou a Katmandu em 1962, para fazer uma matéria para a revista "Time" sobre uma expedição que um dos netos do ex-presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson fez ao Everest.

"Dei-me conta de que a montanha geraria notícias para a imprensa internacional por muito tempo", contou a jornalista, que começou seu registro com essa expedição "histórica", já que foi a primeira vez que usaram diferentes caminhos para subir e descer o Monte.

Miss Hawley chegou a administrar escolas e hospitais da organização Himalayan Trust e foi cônsul honorária da Nova Zelândia no Nepal entre 1990 e 2010.

Fiel ao misticismo da montanha, ela critica o crescente interesse comercial no mundo do alpinismo, atualmente, embora ao mesmo tempo reconheça que essa moda tenha impulsionado o número de entradas em sua base de dados.

Elizabeth acompanhou as peripécias dos escaladores mais famosos das últimas décadas, como o austríaco Reinhold Messner, mas ela mesmo sabe que o tempo não perdoa e que em breve não será mais capaz de se responsabilizar pelos registros.

"Não sei o que vai a acontecer", assume esta cronista do Himalaia.

A pesquisa, conhecida como "Registro do Himalaia", publicada pela primeira vez em 2004, contém todas as expedições realizadas nas montanhas nepalesas, e pode ser encontrada também em um site constantemente atualizado por ela. Esta é a ferramenta mais valiosa para validar de forma imparcial as coroações e mediar as disputas entre montanhistas.

Há polêmicas como o caso da coreana Oh Eun-Sun que há dúvidas se realmente finalizou a escalada dos 14 cumes de mais de oito mil metros de altitude do monte Kanchenjunga.

Em meio a desconfianças de outros alpinistas, Miss Hawley teve que entrevistar testemunhas e expedicionários. Em seu registro a coroação do Kanchenjunga por Oh Eun-Sun figura como "em disputa", por isso que em seus papéis não fica claro se a primeira mulher a chegar aos 14 oito mil é esta coreana ou a espanhola Edurne Pasaban.

Os escaladores concordam em pensar que Miss Hawley é uma medidora "neutra", por isso que seu registro é considerado uma espécie de "bíblia" do montanhismo, embora ela afirme com modéstia que seu trabalho é na realidade "monótono".

"Eu gostaria que as pessoas fossem às outras montanhas, que fossem pioneiros ao invés de escalar o Everest, o Cho-Oyu e o Ama Dablam", apostou a octogenária, em referência aos picos mais populares do Himalaia nepalês.

É algo que ela, "com alguns problemas de equilíbrio corporal", não fará: aos 87 anos, esta mulher ativa, lenda viva do Himalaia, confessa que não chegou a pisar no campo base do Everest e que jamais escalou uma montanha.

"Sei o que há nelas", diz, segurando o caderno onde guarda os questionários.





Fonte: Reuters

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