Viúva de Elio Petri vê cópia restaurada de "O Assassino"
A sessão Cannes Classics pode ser uma das menos midiáticas do festival, mas é, a despeito disso, uma das mais charmosas e emocionantes.
O filme de abertura, este ano, foi "Puzzle of a Downfall Child" (retrato de uma criança em queda), de Jerry Schatzberg. O título, de 1970, foi exibido em cópia restaurada, na presença do diretor e de sua protagonista, Faye Dunaway - que está no pôster do festival este ano.
A seleção incluiu, ainda, "Laranja Mecânica" (1971), de Stanley Kubrick, projetado na presença do ator Malcom McDowell, o Alex, e "O Conformista" (1970), de Bernardo Bertolucci.
E a última iguaria guardada para a mostra foi "O Assassino" (1961), lendário filme de Elio Petri (1929-1982), exibido anteontem na sala Buñuel, depois de passar por um delicado processo de recuperação.
A viúva de Petri, Paola Pegoraro Petri, esteve presente à sessão e disse esperar que os espectadores se divertissem. "O que o Elio sempre dizia era isso: um filme não pode ser chato, não pode causar tédio no público".
E "O Assassino", a julgar pela reação da plateia, não entediou ninguém. Envelheceu incrivelmente bem.
MARCELLO
Primeiro longa-metragem de Petri, "O Assassino" já carrega muitos dos elementos que marcariam a carreira do cineasta, como o tema da alienação social e política e a câmera que vaga por entre os personagens de maneira espontânea, à la Nouvelle Vague.
"O Assassino" traz, no papel principal, Marcello Mastroiani (1924-1996).
Negociador de objetos antigos um tanto afeito às falcatruas, seu personagem, Alfredo Martelli, será acusado de ter matado a amante.
Petri usa a trama como ponto de partida para mostrar a hipocrisia da sociedade e para explorar as relações de poder.
Certa vez, numa entrevista, Mastroianni disse ter se sentido emocionado quando, ao entrar na sala de Martin Scorsese, deu de cara com um pôster de "O Assassino".
Petri foi premiado em Cannes duas vezes, com "Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita" (1970) e com "A Classe Operária Vai ao Paraíso" (1971), ganhador da Palma de Ouro.
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