O paletó havia sido jogado fora com displicência já no segundo número. A gravata também já afrouxada, reforçando o visual sujinho meio Strokes de cabelo desgrenhado, calça preta e tênis em contraste com o clássico relógio de fivela de couro e uma camisa social, Jamie Cullum, 31 anos, anunciou ao público que seu show tinha um combustível: "uísque com guaraná". Na verdade, a bebida era um mix da mais famosa marca de bourbon dentro da latinha de refrigerante, cujo conteúdo foi parcialmente jogado fora para dar lugar ao destilado. Assim foi o show do cantor de modern jazz britânico: uma mistura do clássico e do popular.
Quando Cullum disse que "o mundo não precisa tanto de acadêmicos quanto pensava", como fala a letra de Twentysomething, música que dá título ao terceiro álbum de estúdio do cantor, o público da Chácara do Jockey, em São Paulo, estava literalmente em suas mãos. E isso não é pouco quando não se dispõe de guitarras e samplers, apenas uma banda com piano, contrabaixo, bateria e corneta. Muita pose, elogios ao Brasil e interação com o público foram a receita do performer de Essex para o público brasileiro. "Amo tanto a música do Brasil, assim como todo instrumentista, que fiz uma homenagem. Esta vai para meu amigo Celso Fonseca", desmanchou-se o músico, no Palco Verde do Festival Natura Nós.
Mas não só de esmurrar o teclado, provar que bebe, elogiar o público brasileiro e se despir no palco que vive o músico, tomado como referência na renovação do gênero. Seu carisma também está na escolha das releituras de sua apresentação. O ecletismo do intérprete, que por vezes lembra o vocalista do Faith No More, Mike Patton, permite reunir leituras de Don"t Stop The Music, de Rihanna, e High And Dry, de Radiohead. No meio disso, corridinhas pelo palco e equilibrismo sobre o piano, com direito a batucada na madeira do instrumento enquanto a boca marcava ainda mais o ritmo num beat box.
O cantor pediu diversas vezes para ser seguido na letra pelo público, mas só conseguiu isso nos covers. Além dos gritos de moças empolgadas com seu rebolado. Não é exatamente um fracasso arrancar os gritos de um público que veio para ver a calma música de voz e violão do havaiano Jack Johnson, que toca logo mais às 22h. Jamie declarou achar o público brasileiro "incrível" e de sempre lembrar disso.
A paulistana Maria Gadú tocou no Palco Azul do festival por exatamente uma hora, das 18h45 às 19h45, antes do britânico. Ela ofereceu um bom aperitivo ao público com músicas próprias como Shimbalaiê e releituras de músicas como o clássico da música francesa Ne me Quittes Pas.
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