Bancos brasileiros elevaram suas captações nos mercados internacionais de capitais nas últimas semanas, com uma enxurrada de emissões feitas por instituições como Banco Votorantim e Safra . Com isso, o total levantado apenas em maio por bancos do País alcançou US$ 2,7 bilhões até agora.
Neste ano, bancos brasileiros já obtiveram cerca de US$ 7,5 bilhões de investidores internacionais, segundo o IFR, um serviço da Thomson Reuters. Mas, embora o excesso de liquidez global esteja funcionando para quem faz empréstimos no Brasil, garantindo recursos para sustentar o crescimento do crédito a custos baixos e por prazos relativamente longos, o Banco Central está sofrendo.
Os mercados de capitais excessivamente solícitos estão deixando o BC brasileiro em uma situação difícil enquanto tenta resfriar a economia. O Brasil cresceu surpreendentes 7,5% no ano passado e manteve a taxa de crescimento alta no primeiro trimestre, em 6,3% anualizados, incitando temores de superaquecimento.
Embora a estratégia óbvia seja elevar o juro, o BC até agora evitou um aperto monetário mais forte para tentar evitar uma maior apreciação do real, que prejudica as exportações. Em vez disso, a instituição tem atacado os empréstimos dos bancos com medidas macroprudenciais.
No entanto, o crédito não se deu por vencido. Nos 12 meses encerrados em março, a oferta de crédito no Brasil avançou 20,7%, segundo dados do BC. Parte da explicação para a continuidade do crescimento do crédito, segundo analistas e profissionais de bancos, é a capacidade das instituições em acessar os mercados internacionais de capitais.
"Bancos como Cruzeiro do Sul e BMG conseguem continuar a ampliar seus portfólios de empréstimos porque atraem recursos de mercados globais", disse um analista financeiro de São Paulo. De fato, ambos os bancos acessaram o mercado norte-americano nos últimos seis meses.
"O BC não sabe mais como resolver essa questão, eles estão furiosos", disse um ex-gerente de portfólio de um grande fundo de pensão do Brasil. O governo já ampliou para 6% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para captações no exterior de prazo de até dois anos.
Enquanto o BC tenta cercar as alternativas de financiamento, alguns bancos menores vão sendo incorporados por outras instituições financeiras.
Nos últimos meses, o Schahin e o Morada foram adquiridos por outras instituições depois que seus índices de Basileia caíram abaixo de 11%. Profissionais de bancos apostam que muitos outros vão se juntar a esses dois antes do final do ano.
Um relatório de indicadores de Basileia preparado a pedido do IFR pelo consultor e especialista do setor bancário Roberto Troster mostra que pelo menos três bancos estão muito perto ou abaixo do índice de Basileia de 11% exigido no Brasil: Banif, Luso-Brasileiro e Bonsucesso. Cinco outros estão mostrando índice abaixo de 13%, exigindo atenção.
Entretanto, se investidores internacionais continuarem a oferecer dinheiro barato aos bancos, a aguardada desaceleração da economia brasileira e a consolidação adicional do setor bancário podem não se materializar. E investidores podem esperar por muitas emissões de bônus por bancos brasileiros adiante.
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