Líder palestino convoca reunião urgente após discurso de Obama
O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, convocou uma reunião urgente após o discurso do presidente americano Barack Obama nesta quinta-feira, quando ele pediu que Israel retorne às fronteiras de 1967 --anteriores à conquista israelense de partes dos territórios antes ocupados por palestinos.
As informações são do principal negociador de paz palestino, Saeb Erekat. Ele acrescentou que Abbas deve consultar com a maior urgência outros líderes árabes e a cúpula da liderança palestina na região.
Mais cedo, foi divulgado que Abbas se reuniu em Ramallah (na Cisjordânia) com dois altos funcionários do Departamento de Estado americano pouco antes do discurso de Obama.
Abbas informou ao secretário de Estado adjunto, James Steinberg, e ao responsável do Departamento de Estado para o Oriente Médio, Jeffrey Feltman, a respeito dos termos do recente acordo de reconciliação concluído por seu partido Fatah com o movimento islamita rival Hamas, indicou seu gabinete em um comunicado.
Este acordo prevê a formação de um governo de transição composto de personalidades independentes até a realização, dentro de um ano, das eleições presidencial e legislativa.
Fortemente denunciado por Israel, este acordo foi recebido com grande cautela pelos Estados Unidos e pelos europeus, devido ao fato de o Hamas se negar a reconhecer a existência do Estado hebreu.
Ainda segundo o comunicado, divulgado pela agência de notícias palestina Waga, Abbas reiterou a seus interlocutores americanos que "não pode reiniciar as negociações de paz com Israel se este não interromper suas atividades de colonização na Cisjordânia ocupada".
Reiniciadas no começo de setembro de 2010, as negociações entre as duas partes foram suspensas pouco depois, quando Israel se negou a prolongar a moratória parcial de construção de dez meses nas colônias.
Frente a este bloqueio, os palestinos têm a intenção de pedir à ONU (Organização das Nações Unidas) em setembro o reconhecimento de seu Estado nas fronteiras de antes da guerra dos Seis Dias, em junho de 1967.
Na sexta-feira, o presidente americano se reunirá com o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu.
DISCURSO DE OBAMA
Obama declarou nesta quinta-feira o apoio dos Estados Unidos à construção de um Estado palestino nas fronteiras de antes da guerra de 1967, quando Israel anexou ao seu território parte da Cisjordânia, e faixa de Gaza, além de Jerusalém Oriental e Golã.
A declaração foi uma mudança na política americana, que até então defendia que a demanda palestina por estes territórios deveria ser reconciliada com o desejo de Israel por um Estado judeu de fronteiras seguras.
"O povo palestino deve ter o direito ao autogoverno, e a atingir seu potencial, em um Estado soberano e contíguo", disse Obama, em um discurso sobre o mundo árabe e o Oriente Médio no Departamento de Estado.
Obama, contudo, ressaltou diversas vezes que a segurança de Israel é uma prioridade dos EUA. Ele afirmou que a retirada das forças israelenses dos territórios palestinos deve ser acompanhada do compromisso das forças palestinas de garantir uma fronteira segura e pacífica.
Jim Watson/France Presse | ||
Diante de bandeiras americanas, presidente Barack Obama faz amplo discurso sobre a situação no Oriente Médio |
O apoio não deve agradar Israel, na véspera da visita do premiê Binyamin Netanyahu à Casa Branca. Netanyahu defende que as fronteiras do Estado palestino sejam definidas através de negociação.
Os EUA lançaram em setembro passado um novo esforço diplomático para retomar o diálogo direto de paz entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina. Mas as conversas foram estagnadas desde que Israel rejeitou a extensão de uma moratória sobre a construção em assentamentos judaicos em território palestino.
Desde então, as lideranças palestinas apostam em uma campanha para obter reconhecimento internacional e da ONU (Organização das Nações Unidas) a um Estado dentro das fronteiras antes da guerra de 1967. A organização deve votar em setembro sobre a criação de um Estado palestino.
Obama também cobrou ação dos palestinos e alertou que "atos simbólicos para isolar Israel" na ONU, em uma aparente referência ao esforço palestino, não criarão um Estado independente palestino.
O presidente pediu concessões dos dois lados e alertou que o processo não será simples, com temas polêmicos como o futuro de Jerusalém e os palestinos refugiados. Ele reforçou a proposta americana de dois Estados para dois povos e pediu que ambos os lados parem de olhar ao passado e comecem a pensar no futuro, inspirados pelas mudanças revolucionárias no Egito e na Tunísia.
Obama deu ainda uma alfinetada na ANP, ao decretar que não haverá diálogo com o movimento islâmico Hamas. Recentemente, 13 facções palestinas anunciaram uma reconciliação, que levará à formação de um governo único interino e eleições gerais.
O acordo palestino deixou muitas autoridades surpresas, já que Fatah (que comanda a Cisjordânia) e Hamas (que controla a faixa de Gaza) têm um histórico de profundas divisões sobre como reagir ao conflito com Israel.
Restaurar a união palestina, contudo, é visto como crucial para reviver qualquer prospecto de um Estado palestino baseado em coexistência pacífica com Israel. Fatah, principal corrente palestina até a vitória do Hamas nas eleições de 2006, apoia a negociação com Israel, já o grupo islâmico rejeita qualquer diálogo.
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