Após o Terra divulgar fotos mostrando o caos no maior hospital público de Alagoas - o Hospital Geral -, servidores do Sindicato da Saúde, Trabalho e Previdência (Sindiprev) se reuniram na manhã desta quinta-feira para decidir por uma operação padrão em todos os postos e hospitais do Estado. Os funcionários ameaçam fazer greve geral.
"Ninguém suporta mais. Um dia antes das fotos, o governador (Teotonio Vilela Filho) foi perguntado sobre o aumento salarial dos servidores e soltou uma gargalhada na imprensa. Vivemos o caos na saúde pública", disse o presidente do Sindiprev, Cícero Lourenço.
Na segunda-feira, o Sindiprev se reúne com o Sindicato dos Trabalhadores da Educação (Sinteal) - que suspendeu as aulas esta semana - e o Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol) - que está em greve há três semanas. "O ponto de pauta é uma greve geral. O maior hospital do Estado está superlotado e o povo fica no chão. Os trabalhadores estão sem condições de suportar esta situação", disse Lourenço.
Eles querem a implantação da isonomia salarial - com reajuste de 40,83% - e a criação do plano de carreira dos servidores - atualmente, apenas os médicos dispõem desse benefício. O salário médio de um servidor da saúde é de pouco mais de R$ 900.
Através de nota, a Secretaria Estadual de Saúde disse que as fotos mostradas pelo Terra - com cadáveres ao lado de doentes em recuperação, pacientes no chão, formigas em macas e goteiras - "não são rotina no hospital". "(A secretaria) reitera que as informações chegadas ao conhecimento do portal Terra estão sendo averiguadas, porque não são rotinas desta unidade", diz a nota.
"A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), por meio da direção do Hospital Geral do Estado (HGE), vem a público esclarecer que o HGE é um hospital de referência no Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar os casos de urgência e emergência, no entanto, se mantém de portas abertas para prestar assistência a todo e qualquer paciente. No Estado, apenas este hospital tem essa característica. Tendo número de leitos limitado, fatalmente ocorrerá atendimento de pacientes em macas, mas não há pacientes no chão", diz a secretaria.
"A Sesau e a direção do HGE consideram o fato como preocupante por comprometer a assistência à saúde da população, mas garantem que, em nenhum momento, pacientes deixam de ser assistidos pelos profissionais de plantão", diz a nota.
Na quarta-feira, o governador anunciou aumento de 7% aos servidores, mas condicionou o reajuste para que ele fosse aceito até o final do mês de maio. Do contrário, o valor ficaria em 5,91% - a proposta inicial do governo, que é, na prática, uma correção da inflação. "O governador não conversa com os servidores e ainda coloca condições para nós. Voltamos à era da ditadura em Alagoas", disse o presidente do Sindiprev, Cícero Lourenço.
Pacientes convivem com formigas, goteiras e cadáveres
Na última segunda-feira, reportagem do Terra retratou as más condições sanitárias do Hospital Geral do Estado de Alagoas. Durante três semanas, o Terra percorreu os corredores da casa de saúde com uma câmera escondida, flagrando situações da agonia de quem não tem condições de pagar um plano de saúde e depende do único hospital de referência nos atendimentos de urgência e emergência.
Entre os flagrantes registrados há pacientes atacados por formigas, outros apertados em macas pequenas, mortos dividindo espaço com os vivos, lixo próximo a enfermos, goteiras e atendimentos improvisados em cadeira por falta de leitos.
Em meio ao caos, pacientes da área vermelha, que recebe os casos mais graves, eram atendidos no chão, deitados em colchões improvisados. Outros esperavam sentados em cadeira, com um soro nas mãos, a desocupação de um leito. No corredor, o grito de um paciente escancarava o horror. Com fortes dores no braço direito, ele tentava se livrar de um ataque inesperado: formigas desciam pela parede e infestavam a cama dele. Sem forças para espantá-las, ele esperava atendimento de enfermeiras e médicos. Enquanto isso, um corpo enrolado num saco permaneceu horas ao lado de pacientes vivos.
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