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Nacional
Quinta - 19 de Maio de 2011 às 10:39

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Isolados geograficamente do resto do mundo, Austrália e Nova Zelândia desenvolveram um sentimento de cooperação que certamente é um dos mais fortes entre todos os países. Há apenas uma situação em que o bom relacionamento de dois povos que se admiram e são parceiros econômicos e militares é abalado: as disputas esportivas.

Rivais ferrenhos em qualquer modalidade, australianos e neozelandeses mediram força pela primeira vez em 2011 naquela que é a grande paixão nacional de ambos: o rúgbi.

A noite do dia 6 de maio, uma sexta-feira, foi de festa para a Austrália, que venceu o embate amistoso por 20 a 10, jogando em casa, em Gold Coast.

Os visitantes, porém, podem alegar que jogaram com o time "B". Não porque tenham escalado uma seleção de segunda linha para um duelo tão importante, mas porque o rúgbi é dividido em dois diferentes estilos, e esse é outro raro ponto em que as duas nações se desentendem.

A partida foi disputada pelas regras do rugby league, o preferido dos vencedores, enquanto os vizinhos dão mais atenção ao rugby union , seguindo uma tendência internacional.

"Somos o único país do mundo que prefere rugby league, enquanto o resto segue mais o union, mas não há dúvidas que os dois estilos têm muitos amantes em qualquer parte da Commonwealth (comunidade britânica)", disse Nelson Clark, arquiteto que acompanhou o jogo em um pub de Sydney.

"Os neozelandeses, quando ganham, amam o union e, quando perdem, gostam de desdenhar. Mas não tem importância: ganhamos deles seja qual for a regra", provocou Clark.

Em suma, o rugby league tem regras mais simples que o union, além de menos jogadores (13 ao invés de 15). Porém, é menos difundido por ter surgido cerca de 70 anos mais tarde, após uma desavença de jogadores ingleses descontentes com o profissionalismo do esporte na década de 1890.

A primeira colônia britânica a aderir ao novo estilo foi justamente a Austrália, e, desde então, o país o adotou o league como preferido, contrariando o resto do mundo.

Evento solidário

Apesar da grande rivalidade envolvida, o jogo em questão também serviu como mais uma mostra da proximidade entre os dois países, que recentemente comemoraram o Anzac Day, principal feriado cívico de ambos, em memória aos soldados da Australian and New Zealand Army Corpus, que lutaram na batalha de Galipolli, na Turquia, na I Guerra Mundial.

Por conta disso, os meses de abril e maio são tradicionalmente marcados por eventos conjuntos. Em 2011, todavia, uma outra triste razão serviu para unir ainda mais os povos: o abalo das tragédias naturais que os vitimaram recentemente, como as enchentes e um ciclone no estado de Queensland, na Austrália; além de um terremoto na cidade de Cristchurch e um tornado em Auckland, na Nova Zelândia.

"Poderíamos dizer que o mais importante era homenagear nossos irmãos que sofreram neste ano. Mas, já que o resultado foi bom para a gente, temos que comemorar, não é?", brincou Clark.

O jogo foi antecedido de homenagens e, durante a semana, atletas das duas equipes visitaram os lugares mais afetados pelas tragédias. Originalmente, o jogo deveria ser disputado em Cristchurch, que teve o estádio destruído. A mudança da sede do amistoso para Gold Coast, em Queensland, foi uma clara homenagem às vítimas. Para completar, pelo menos 500 sobreviventes dos desastres assistiram ao jogo em um camarote especial.

Aquecimento para o Mundial

No rugby league, menos famoso inclusive no Brasil, Austrália e Nova Zelândia são conhecidos, respectivamente, por "kangaroos" (grafia inglesa de canguru) e "kiwis" (nome do pássaro que se assemelha à fruta, nativo das florestas neozelandesas).

Os "wallabies" e os "all blacks", mais populares internacionalmente, são as seleções de rugby union, que têm tudo para protagonizarem duelos marcantes em 2011.

Entre os dias 9 de setembro e 23 de outubro, a Nova Zelândia sediará a Copa do Mundo de rugby union, uma oportunidade especial para os donos da casa conquistarem o segundo título do torneio e se igualarem aos rivais australianos no número de conquistas.

Na Copa do Mundo de rugby league, que teve a última edição disputada em 2008, os australianos também são superiores, e de maneira esmagadora: nove títulos contra um.

Incomodados pela desvantagem nos dois estilos, os neozelandeses farão de tudo para não perderem dos maiores rivais em casa. Outros países favoritos ao título são a África do Sul, atuais campeões, a Inglaterra, criadora do esporte e sempre respeitada, além de França e Irlanda, que tiveram bom desempenho na última Copa das Seis Nações, importante competição realizada apenas entre países europeus.

O equivalente no Hemisfério Sul é o Torneio das Três Nações, campeonato anual disputado por Nova Zelândia, Austrália e África do Sul. No torneio, os neozelandeses são soberanos: dez conquistas, contra três sul-africanas e uma australiana. A Argentina, semifinalista do Mundial de 2007 e uma força emergente no esporte, é cogitada para integrar o torneio e formar o novo "Quatro Nações".

Brasil engatinha

Enquanto nossos vizinhos sul-americanos ganham notoriedade no esporte, o Brasil ainda engatinha. Consta na história que Charles Miller, introdutor do futebol em terras brasileiras, também era um jogador de rúgbi e tentou popularizar a modalidade em São Paulo. No entanto, enquanto ele demonstrava grande habilidade com a bola redonda nos pés, não passava de um esforçado, porém limitado, jogador com a bola oval. Essa realidade prevalece até os dias de hoje.

"Creio que o rúgbi brasileiro tem bastante potencial, mas a estrutura ainda é precária. Com investimento poderíamos chegar a disputar uma Copa", torce Caíque Souto, estudante de história e praticante de rúgbi na Universidade de São Paulo (USP).

A Seleção Brasileira ainda é considerada uma equipe do terceiro escalão do rúgbi mundial. Até na América do Sul está em um patamar abaixo não apenas da Argentina, mas também de Uruguai (que já disputou duas Copas do Mundo) e Chile (seleção contra a qual temos uma vitória, um empate e 15 derrotas no confronto direto).

Desde que começou a disputar as Eliminatórias para o Mundial de Rúgbi, em 1999, o Brasil já teve o sonho da classificação adiado por carrascos como Paraguai e Trinidad e Tobago, mas pode se notar uma evolução no desempenho dos últimos anos.

"O rúgbi tem um grande crescimento no meio universitário, mas não vejo isso como resultado de incentivo. De qualquer forma, sou otimista", diz Caíque, antes de completar: "é um grande prazer praticar e acompanhar as histórias do terceiro tempo. São muito divertidas", afirmou, referindo-se ao encontro tradicional que os times fazem após um jogo para se confraternizarem.

Apesar da fama de violento, o esporte dá diversas lições de fair play ao mundo, como foi o amistoso solidário entre australianos e neozelandeses.





Fonte: Terra

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