Pacientes atacados por formigas, apertados em macas pequenas, mortos dividindo espaço com os vivos, lixo próximo a pacientes, goteiras e atendimentos improvisados em cadeira por falta de leitos. Esse é o retrato da crise na maior unidade pública de saúde de Alagoas, o Hospital Geral do Estado.
Durante três semanas, o Terra percorreu os corredores da casa de saúde com uma câmera escondida, flagrando situações da agonia de quem não tem condições de pagar um plano de saúde e depende do único hospital de referência nos atendimentos de urgência e emergência.
Em meio ao caos, pacientes da área vermelha, que recebe os casos mais graves, recebem o atendimento no chão, deitados em colchões improvisados. Outros esperam sentados em cadeira, com um soro nas mãos, a desocupação de um leito. No corredor, o grito de um paciente escancara o horror. Com fortes dores no braço direito, ele tenta se livrar de um ataque inesperado: formigas descem pela parede e infestam a cama dele. Sem forças para espantá-las, ele espera atendimento de enfermeiras e médicos. Enquanto isso, um corpo enrolado num saco permanece horas ao lado de pacientes vivos.
Reformas estão paradas há três anos
Atualmente, o hospital tem 260 leitos, mas poderia ser maior. Parada há três anos, a reforma da unidade estenderia para 410 o número de vagas. "Esse caos é assustador. Precisar do hospital é ter a certeza de que o risco maior é de morrer que viver", disse o presidente do Sindicato dos Médicos, Welington Galvão.
Quase dois terços da população alagoana depende do Sistema Único de Saúde (SUS), abarrotando os hospitais, principalmente o Geral. "Na prática, trata até pessoas com unha encravada. O hospital é a maior vítima disso. O sistema de saúde em Alagoas não avançou nestes anos. Por isso, vemos essa situação bizarra: pacientes em agonia nos corredores. Os postos de saúde não funcionam", disse o defensor público, Ricardo Melro.
Em meio a esse quadro trágico, funcionários se desdobram, mas não conseguem vencer o descaso. "Falta material, a gente tem que improvisar. Eu não aguentei. Tive um infarto, sem motivo nenhum. Tenho uma saúde perfeita. Os plantões são extenuantes, insuportáveis", disse um profissional do hospital, que preferiu para não se identificar. Outro servidor conta que chegou a adoecer: "Eu tive uma crise nervosa vendo o desespero de uma pessoa no corredor, sem poder fazer nada. Eu não aguentei".
Descontentes e esgotados, os funcionários só têm forças para lamentar. "O Geral é o inferno. Quem trabalha lá, depois desta vida, vai para o Paraíso. Nada é pior que aquele lugar", reclama outro funcionário. No corre-corre para salvar vidas, os profissionais se deparam com o improviso e a falta de estrutura. Caixas de papelão viram bandejas com medicamentos. Macas são mesas. Remédios e seringas são manipulados próximos a lixo. Infiltrações enormes permitem que água desça do teto como se fosse uma torneira. É a chuva torrencial saindo pelas frestas.
Acordo poderá reabrir 96 leitos que estavam fechados
Uma das possíveis alternativas para melhorar o atendimento público foi discutida na sexta-feira passada. Depois de dois anos, os Ministérios Público do Trabalho, Federal e o governo do Estado acordaram que reabrirão os 96 leitos, que estão fechados, no Hospital Universitário. Por falta de profissionais e sem previsão de concurso público, os leitos não funcionam.
"Temos um déficit de 1,5 mil leitos. Mesmo que construíssemos três hospitais, com 300 leitos cada, não cobriríamos esta oferta", disse o superintendente de Atenção à Saúde, Vanilo Soares. Em curto prazo, não existe solução para a situação da saúde, reconhece Soares, que rebate as críticas. "Mostra-se o caos com os corredores lotados, mas não as partes do hospital que funcionam e bem. Um dos conselhos que damos a população é que não procure o Geral por qualquer coisa¿, disse o superintendente.
Os profissionais da saúde, no entanto, não querem mais esperar e ameaçam com uma greve geral. Uma decisão deverá sair ainda nesta semana. "Nem o governador aguentaria ficar meia hora no Hospital Geral. Espero que ele nunca precise", aconselha o presidente do Sindicato dos Médicos, Welington Galvão.
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