Os representantes dos 193 Estados-membros da OMS, entre eles muitos ministros da Saúde, que debaterão até o dia 24 diversos assuntos da agenda global de saúde, escutaram a diretora geral do organismo, Margaret Chan, colocar a necessidade imperiosa de realizar uma profunda reforma financeira da instituição.
"A reforma é essencial e a OMS vai embarcar na maior reforma administrativa, de gestão e financeira de seus 63 anos de história", disse Chan em seu discurso perante os cerca de 2 mil delegados.
Chan assegurou que quando começou a crise financeira mundial, no final de 2007, "fomos advertidos por especialistas externos que aceitássemos a crise não como uma indisposição temporária que devia ser administrada com medidas temporárias, mas como o começo de uma nova era de austeridade econômica, e nós aceitamos esse conselho".
Por isso, se introduziram medidas de redução de custos e "tivemos que cortar algumas de nossas áreas tradicionais de trabalho".
Chan reconheceu que "a crise financeira bateu em muitos de nossos doadores tradicionais" e que "esta nova era de austeridade financeira reduziu os fundos disponíveis para os programas de saúde nacionais e para a ajuda oficial ao desenvolvimento".
Um dos efeitos da crise mundial é que as contribuições fixas voluntárias dos Estados-membros da OMS não deixaram de cair nos últimos anos, até o ponto que Chan prevê um déficit de US$ 300 milhões para este ano.
Segundo algumas fontes, os cortes orçamentários previstos implicariam a eliminação de 300 dos mais de 2 mil postos de trabalho de Genebra, assim como reduções nas funções do organismo.
Mas a queda nas contribuições públicas não se devem só à crise, mas também à polêmica gestão que a OMS realizou em torno da pandemia da gripe A, quando as advertências apocalípticas da agência sanitária levaram aos Governos a efetuar enormes despesas em vacinas que nunca se utilizaram.
A OMS foi então acusada de falta de independência e de estar submetida aos interesses da indústria farmacêutica, e diversas ONG advertem que a redução do financiamento público levará ao organismo a depender ainda mais do setor privado.
Precisamente em torno da gripe A, os participantes da Assembleia terão que considerar o relatório elaborado pelo Comitê encarregado de analisar se a OMS atuou corretamente.
Chan voltou a defender o papel desempenhado pela instituição nesta segunda-feira e adiantou que "o relatório exonera a OMS" de "ter declarado uma pandemia para encher os bolsos da indústria".
Por outra lado, o recente acidente nuclear da central japonesa de Fukushima, como consequência do terremoto e posterior tsunami do dia 11 de março, levantou o espinhoso assunto da relação entre energia atômica e a saúde.
Os delegados assistirão nesta terça-feira a uma sessão especial dedicada a este assunto.
A coalizão de ONG "Por uma OMS independente", que luta há anos para que se reconheçam os danos à saúde causados pelo acidente nuclear de Chernobyl, enviaram uma carta aberta a Chan pedindo mais uma vez que a OMS não se submeta aos ditados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O milionário e filantropo Bill Gates, deve discursar na terça-feira e pedir aos ministros da Saúde para priorizem as vacinas a fim de salvar milhões de vidas.
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