Com crise em Portugal, editoras miram Brasil
Se Portugal já estava pequeno para as editoras de lá, a crise no país de Camões tornou ainda mais atraente o mercado brasileiro de livros.
Maior grupo editorial português, com 25% do mercado, o Leya se prepara para ampliar seu catálogo literário no Brasil, segundo a Folha apurou.
Instalado em São Paulo há dois anos, o grupo tem investido principalmente nos selos comerciais para emplacar títulos nas listas dos mais vendidos.
Agora, porém, quer evitar que se torne conhecido apenas como editora de best-sellers. Seria um equívoco, dado que o grupo possui selos da melhor tradição literária portuguesa, como o Caminho e o Dom Quixote.
A mudança de sede, de Portugal para o Brasil, é assunto aventado nos bastidores. Oficialmente, porém, o grupo não quis se pronunciar.
Na última semana, o grupo se tornou sócio majoritário da carioca Casa da Palavra, de pequeno porte.
O Babel, que aportou em São Paulo há cerca de dois meses, anuncia a criação do seu selo infantil no Brasil.
Em Portugal, a participação do grupo no mercado é de quase 2%, mas esse percentual chega a até 20% quando se considera o segmento infantojuvenil, em que possui parceiros como Disney, Marvel e Warner.
"O Brasil não é uma mera alternativa a Portugal e muito menos uma operação subsidiária. É a primeira opção de desenvolvimento estratégico", afirma Paulo Teixeira Pinto, seu presidente. "Estando as coisas como estão, o que pode vir a suceder é que a Babel Brasil se torne maior do que a Babel Portugal mais cedo do que se esperava."
ESTAGNAÇÃO
Estagnado há pelo menos uma década, o mercado português representa cerca de 5% do brasileiro, segundo cálculos da Apel, que reúne as editoras portuguesas. Nos anos em que cresceu, o avanço não ultrapassou os 2%.
Desde que o país quebrou, as vendas de livros já caíram 15%, segundo as estimativas mais pessimistas.
A consolidação recente do setor fez surgir três grandes grupos, ao menos em quantidade de selos. Além de Leya e Babel, há o Porto, que atua principalmente no setor de educação e que, além de Portugal, já se instalou em Angola e Moçambique.
Não há planos da Porto para o Brasil, por enquanto. "É um país imenso, com crescimento e dinamismo ímpares. Seria um enorme desafio darmos outra expressão à nossa presença no Brasil, mas esse cenário não se coloca", diz Paulo Gonçalves, diretor de marketing.
Desde a década de 1950, os dicionários da Porto são vendidos no Brasil. O grupo diz que as versões para iPhone e iPad, lançadas recentemente, fazem sucesso com o público brasileiro.
Nesse novo mercado editorial português, estabelecido há uma década, a briga para emplacar best-sellers passou a fazer parte do dia a dia das editoras, que funcionavam em outro ritmo.
Editores da velha guarda lamentam a extinção de suplementos literários e livrarias tradicionais. "Vendem-se mais livros, mas desapareceram as melhores livrarias e os melhores livreiros, algumas boas editoras, importantes páginas da crítica", diz André Jorge, fundador da Cotovia, uma das mais bem-sucedidas das independentes.
"O mercado está absolutamente irreconhecível. Agora está muito mais profissionalizado, agressivo", diz Luis Corte Real, dono da Saída de Emergência, especializada em literatura fantástica. "Quem não se adaptou às mudanças ou fechou ou está prestes a fechar".
André Jorge argumenta que, como é escasso o número de portugueses que leem, ou o Estado define uma política para divulgar a literatura, ou corre-se o risco de ficar "cada vez mais incultos".
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