Conteúdo das caixas-pretas do voo 447 será acessado em três dias
O BEA (Birô de Investigações e Análises), órgão do governo francês responsável pela investigação do acidente com o voo 447 da Air France --que caiu no oceano em 2009, matando 228 pessoas-- informou que apenas na segunda-feira (16) será possível saber se as informações contidas nas caixas-pretas do avião poderão ser recuperadas.
Os dois aparelhos, resgatados do fundo do Atlântico nos dias 1º e 3 de maio, chegaram hoje à França e foram "[apresentadas"] para a imprensa.
"Na segunda-feira vamos anunciar em que situação estão as caixas-pretas que registram os parâmetros de voo e as conversas na cabine dos pilotos", afirmou o diretor do BEA, Jean Paul Troadec. "Diremos em que estado estão as caixas-pretas, se as informações podem ser recuperadas ou se são necessários trabalhos complementares para obter as informações."
Segundo Troadec, o aspecto exterior dos aparelhos é bom, o que prova que resistiram à queda no oceano, mas não é possível afirmar ainda se os dados foram preservados. Ele disse acreditar "bastante" que o órgão possa utilizar os dados na investigação do acidente.
O BEA considera que uma falha nos sensores de velocidade --as sondas Pitot-- foi um dos fatores do acidente, mas acredita que só terá a explicação definitiva da tragédia se conseguir analisar os dados das caixas-pretas do Airbus A330.
As duas caixas, que ficaram quase dois anos submersas a 3.900 metros de profundidade, foram apresentadas nos mesmos recipientes plásticos transparentes com água em que foram colocadas quando içadas ao navio Ile de Sein. Os recipientes foram selados, com um carimbo de cera, por se tratarem de provas em uma investigação judicial.
A Procuradoria francesa supervisiona os trabalhos do BEA, já que, na investigação judicial, Air France e Airbus são processadas por homicídios culposos (não intencionais).
O promotor público de Paris, Jean Quintard, afirmou que a prioridade de sua investigação é conhecer as circunstâncias do acidente para que se determine os responsáveis, um trabalho para o qual, segundo ele, não é necessário recuperar os corpos que permanecem entre os restos do avião.
No entanto, o representante do Ministério Público assegurou que alguns familiares das vítimas manifestaram seu desejo de recuperar os corpos e declarou que "a Justiça não é insensível" a dor dessas pessoas.
Os dois corpos resgatados do oceano estão em um laboratório e os resultados dos testes que tentam extrair seu DNA deverão ser conhecidos na próxima quarta-feira (18).
ANÁLISE
As caixas-pretas serão abertas na tarde desta quinta-feira na sede do BEA, em Le Bourget, nos arredores de Paris, na presença de um oficial da polícia francesa.
Segundo o BEA, o primeiro passo será limpar e secar o equipamento, o que deve levar dois dias, antes que se possa tentar extrair os dados contidos nos cartões de memória, por meio de um decodificador.
Caso os cartões de memória tenham sofrido corrosão ou outro tipo de desgaste, os investigadores poderão levar semanas para conseguir ler as informações. Segundo Troadec, nesse caso será necessário reconstituir o conjunto de dados de cada cartão usando técnicas sofisticadas.
Com os dados em mãos, a equipe do BEA vai analisar as informações e os investigadores deverão ter rapidamente um panorama geral dos motivos da queda do avião.
Um estudo mais detalhado dos dados das caixas-pretas e também de outras peças do avião porém, levará meses para ser concluído. O BEA prevê divulgar um relatório definitivo sobre o acidente até o início de 2012.
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