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Internacional
Sábado - 07 de Maio de 2011 às 08:25

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A população drusa das Colinas de Golã, território ocupado por Israel em 1967, não ficou à margem dos violentos protestos na Síria, mas nas últimas semanas diminuiu seu apoio em público à família Assad. A mudança aconteceu por causa da dura repressão do regime de Damasco, que tirou a vida de cerca de 650 pessoas e gerou uma onda de condenações internacionais. "Somos sírios, nos sentimos sírios e acompanhamos de perto o que acontece na Síria, apesar de não podermos ir lá", diz à agência EFE Munir Samra, nascido depois que Israel ocupou o estratégico planalto mas que, como a imensa maioria dos 20 mil drusos desta região, diz "continuar tendo seu coração no país vizinho".

Quando começaram as manifestações em meados de março, milhares saíram às ruas para expressar seu apoio ao presidente Bashar al-Assad na localidade de Buqata, a 4 km da fronteira fixada nos acordos de não beligerância de 1974. Fotos dele e de seu pai, Hafez, assim como cartazes a favor do regime, enfeitaram as então efusivas mostras de apoio a uma família com a qual se sentem historicamente ligados, mas à qual nestes momentos de incerteza preferem não louvar demais em público.

"Nestes dias é melhor não falar. Vemos o que acontece na Síria e melhor é não colocar o nariz em coisas que não se conhece, não é bom para os negócios", respondeu o proprietário de um restaurante típico.

Embora sejam minoria, também há alguns que ousaram condenar a repressão e uma centena deles saíram no mês passado às ruas de Majdel Shams sem sequer entrar em acordo sobre o que protestavam. Enquanto alguns pediam reformas, os outros a cessação da repressão, e o protesto nessa pequena localidade incrustada nas encostas do monte Hermon - o mais alto de toda a região - se dissolveu no meio de discussões quando alguém ousou pedir a derrocada do regime.

"Os drusos na Síria estão em uma muito boa situação, fazem parte de todas as instituições de Governo e do Exército, é a única forma como tem (como minoria) para ficar protegida dos extremistas", explica à EFE o jornalista Hamad Aweidat, de 26 anos e que alterna sua residência entre Majdel Shams e Ramala. "Nós não queremos uma mudança de regime, este regime nos deu 40 anos de estabilidade", acrescenta.

O estreito vínculo entre os drusos do Golã e a família Assad remonta há décadas, quando o pai do atual presidente estabeleceu uma série de políticas destinadas a preservar o vínculo entre Síria e a população que tinha ficado na região ocupada.

Os quarenta anos sob governo israelense lhes faz apreciar as vantagens de uma sociedade aberta e democrática ("Nós não vivemos a corrupção, nem a pobreza dos sírios", reconhecem alguns), mas convidam os israelenses a "ficar com todos seus valores democráticos para retornarem à soberania síria".

Mas, enquanto há algumas semanas o culto pessoal a Assad era manifesto em público, hoje as mostras de apoio são individuais e se projetam mais rumo ao conceito de "Síria" como país, no que é uma postura de cautela frente a qualquer cenário futuro. "A população sofre e nós sofremos com eles. Talvez por isso as manifestações de apoio público ao presidente foram se apagando, embora não estejamos a favor de uma mudança de regime", insiste Samra, ao defender a "erradicação da corrupção e a democratização do país em processo gradual dirigido por Assad".

O diretor do Daliluk.com, um dos portais de atualidade na internet que servem a sua comunidade com notícias e serviços, Samra optou por informar sobre os eventos sem tomar posição, em vez de ebitar o tema como fez a concorrência. "Achamos que tem que haver reformas e que têm que ser verdadeiras e para isso é preciso se manifestar, mas é preciso dar tempo a Assad", acrescenta.

Seu colega Aweidat, que estudou em Damasco, adverte que a "Síria não é o Egito, onde a maioria da população é sunita, e qualquer mudança de regime suscitaria uma guerra sangrenta entre tribos e minorias dedicadas aos ajustes de contas".





Fonte: EFE

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