Paquistão admite falhas e ordena investigação sobre Bin Laden
O Exército do Paquistão admitiu nesta quinta-feira que falhas de inteligência impediram que o país localizasse a casa onde Osama bin Laden se escondeu durante ao menos cinco anos e ordenou uma investigação, informaram as agências de notícias France Presse e Reuters.
Ao mesmo tempo, houve indicação de que o país manifestou-se contrário à entrada das Seals --forças de elite da Marinha dos EUA-- em seu território sem seu conhecimento, e que ameaçou rever sua cooperação com Washington caso ocorram outros ataques.
Em comunicado, o Exército paquistanês indicou que considera inaceitável a invasão de seu espaço aéreo. "COAS deixou claro que qualquer ação similar violando a soberania do Paquistão garantirá uma revisão do nível da cooperação militar e de inteligência com os Estados Unidos".
A sigla COAS refere-se ao acrônimo para o cargo ocupado por Ashfaq Kayani, de "Chief of Army Staff General", ou general-chefe das Forças Armadas, em tradução livre.
Este foi o primeiro posicionamento oficial do Exército paquistanês desde a operação realizada no domingo (1º), que matou o terrorista Osama bin Laden na cidade de Abbottabad, a cerca de 100 km da capital Islamabad.
A posição do Exército do Paquistão não deixa dúvidas de que embora os dois países possuam uma intensa cooperação no setor da Defesa e da luta contra o terrorismo, a entrada das aeronaves e militares americanos em seu território sem permissão foi considerada uma quebra de soberania, de acordo com o direito internacional.
Mais cedo, novos detalhes divulgados por fontes paquistanesas e americanas revelam que a operação que matou Osama bin Laden foi caótica e sangrenta e que os militares encontraram pouca resistência antes de matar o líder terrorista e seus aliados em uma casa de alta segurança no Paquistão.
RELAÇÕES EUA x PAQUISTÃO
Ainda na terça-feira (3), o porta-voz da Casa Branca, Jim Carney, disse que alguns parlamentares americanos pressionavam o governo para que suspendesse a ajuda militar dos EUA ao Paquistão, de cerca de US$ 1 bilhão por ano, até que Islamabad provasse que não acobertou Bin Laden.
Em resposta às pressões, Carney disse que o atual momento entre os dois países pode ser descrito como uma "relação complicada, mas que não pode ser abandonada".
Carney disse ainda que os paquistaneses "contribuíram com dados de inteligência que permitiram realizar a operação" e que os EUA "manterão contato" com o aliado.
Os Estados Unidos não informaram o Paquistão sobre a operação porque temiam que o governo paquistanês alertasse Bin Laden, segundo entrevista do diretor da CIA, Leon Panetta, à revista "Time" no início desta semana.
Panetta disse ainda que foi decidido "que qualquer esforço por trabalhar com os paquistaneses poderia colocar em risco a missão: eles poderiam alertar aos objetivos".
A última acusação da CIA, agência de inteligência americana, aumenta a pressão sobre o governo do Paquistão e deve estremecer ainda mais a relação entre os dois países.
O governo de Islamabad só foi informado da presença de helicópteros e forças de elite da Marinha americana após o término da operação --numa clara violação da soberania do Estado paquistanês.
Nesta terça-feira, a embaixada norte-americana no Paquistão e os consulados dos Estados Unidos em Lahore, Karachi e Peshawar foram fechados ao público "até nova ordem", informou um comunicado no site da embaixada dos EUA em Islamabad.
Em reação aos últimos desdobramentos, o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, se defendeu nesta terça-feira das acusações de que o país estava abrigando secretamente o líder da rede terrorista Al Qaeda, Osama bin Laden.
"Alguns na imprensa americana sugeriram que o Paquistão não teve a vitalidade necessária em sua luta contra o terrorismo, ou pior, que fomos dissimulados e protegemos os terroristas que dizíamos buscar", disse Zardari.
"Tal especulação sem base pode ser excitante para os jornais, mas não reflete a realidade", completo.
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