Skinheads "da paz" querem se livrar do estigma de racistas
Está na cara. Com cabeça raspada e fama de brigão, skinhead virou sinônimo de encrenca nas ruas paulistas.
Está também nos pés. Para amarrar o coturno (aquela bota preta, estilo militar), o universitário Pedro*, 19, usa cadarços vermelhos.
Na cultura skinhead, a cor é bandeirada para a violência. "Todos brigam. É a lei de qualquer skinhead", diz.
Sim, eles batem e apanham pela causa. Alguns, contudo, lutam para mostrar que, apesar da cabeleira tosada a máquina zero, têm algo na cabeça quando o assunto é direitos humanos.
É o caso do S.H.A.R.P., sigla em inglês para "skinheads contra o preconceito racial". Essa parcela combate o skin preconceituoso, que traz má fama ao movimento.
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A cultura hoje é associada à vertente neonazista, avessa a gays, negros e nordestinos.
Em São Paulo, os lados rivais costumam duelar na rua Augusta e nas imediações de algumas estações do Metrô.
Carlos*, 16, ganhou uma cicatriz no nariz após golpe de soco inglês. "Estava com um amigo negro. Eles [neonazis] falaram que sou loiro de olhos verdes, não devia andar com um macaco."
Discutir sobre nazismo e fascismo nunca foi tabu na casa do escritor David Vega, 22. Movido pela curiosidade, ele passou dois anos imerso na cultura skinhead, "para pesquisar". A experiência rendeu "Cadarços Brancos".
No livro de 2010, um personagem narra o "êxtase indescritível" de ler "Mein Kampf" (minha luta), a "Bíblia nazista" de Hitler.
David -que nunca foi skin- concluiu que a rixa entre os "cabeças-raspadas" tem paralelo à briga entre torcidas de futebol. "Assim que você veste uma camisa, está indo contra a outra."
Mas as subdivisões no movimento podem ser nebulosas. Veja o caso de Pedro, o dos cadarços vermelhos.
Ele se diz um "skin reggae". Respeita sobretudo a raiz jamaicana da cultura.
Ao mesmo tempo, revolta-se por não poder ostentar por aí seu "orgulho de ser branco". "Tenho que ter vergonha de ser quem sou."
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