Em discurso transmitido na madrugada deste sábado pela emissora de televisão estatal, Kadafi disse que ainda está disposto a um cessar-fogo e propôs uma negociação à Otan para pôr fim aos bombardeios aéreos sobre a Líbia.
O líder também ofereceu aos insurgentes que estão lutando contra suas tropas em Misrata quatro dias para que se rendam, visto que, segundo disse, os líbios não deveriam brigar entre si: "Não podemos lutar entre nós. Somos uma família".
No entanto, o Conselho Nacional Transitório (CNT), principal órgão de direção dos rebeldes, por meio de um comunicado divulgado neste sábado em Benghazi pelo seu vice-presidente, Abdel Hafid Ghoga, rejeitou o cessar-fogo e lembrou que "o regime de Kadafi perdeu toda a credibilidade".
"(Kadafi) propôs repetidamente o cessar-fogo só para continuar violando os direitos humanos fundamentais, as leis humanitárias internacionais e a segurança da Líbia e de toda a região", afirmou Ghoga, em referência às múltiplas ocasiões nas quais o líder declarou tréguas que nunca foram respeitadas.
O representante do CNT em Benghazi, Jalal al Galal, afirmou à Agência Efe que Kadafi "só está fazendo um exercício de relações públicas". "Não acreditamos nele e é só questão de tempo até que o mundo todo se dê conta de que não faz outra coisa além de fabricar mentiras e nos enganar".
Com o discurso e a oferta, o governante "só quer demonstrar que continua sendo humano", disse Al Galal, "mas continua violando os direitos humanos e atacando seu povo".
As tropas do regime prosseguiram bombardeando as cidades do oeste do país, incluindo Misrata, e abriram uma nova frente no sudeste, de onde tentaram penetrar no território controlado pelos rebeldes, segundo Al Galal.
As forças de Kadafi avançaram do deserto ao sul de Benghazi em direção à cidade de Jalu, onde neste sábado ocorreram combates nos quais morreram seis milicianos rebeldes, relatou Al Galal.
Além disso, o dirigente do CNT assegurou que seu Exército pediu reforços ao sul para tentar repelir o ataque de Kadafi e recuperar o controle de Jalu, a 200 quilômetros de Ajdabiya, embora tenha afirmado que esta cidade não corre risco de ser reconquistada pelas tropas governamentais.
O que o líder não conseguiu ainda é tomar o controle do porto de Misrata, de vital importância para a sobrevivência tanto dos combatentes quanto da população civil, já que é a única via de acesso à cidade, bloqueada por terra pelos tanques do regime.
A emissora de televisão estatal havia assegurado que o porto tinha sido inutilizado e que qualquer embarcação que se aproximasse do local seria atacada, mas o representante do CNT em Benghazi negou a informação.
Al Galal disse à Efe que o porto de Misrata, a terceira maior cidade líbia, continua operando e que os navios podem chegar até ele e atracar em seus píeres, embora as tropas do regime estejam bombardearam novamente esta área e outras de Misrata, às quais atacam à distância com mísseis Grad e foguetes Katyusha de longo alcance.
O porta-voz condenou a disseminação de minas nas águas do porto por parte dos navios do regime, como denunciou na sexta-feira a Otan, e declarou que o objetivo do regime é impedir a entrega de ajuda humanitária à cidade.
"Kadafi quer pressionar a população civil para que fique do seu lado e por isso tenta interromper a chegada de itens básicos" a Misrata e outras cidades do oeste da Líbia, explicou Al Galal, que acrescentou que o regime não faz distinção entre as provisões humanitárias e militares.
O porta-voz indicou que a Otan já está se encarregando de retirar as minas do porto de Misrata, como havia anunciado um porta-voz da Aliança, e disse confiar que os bombardeios aliados deterão o avanço das tropas do governo no sul.
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