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Internacional
Sexta - 29 de Abril de 2011 às 12:31

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Rapidez no processo de beatificação de João Paulo 2º gerou algumas críticas
Rapidez no processo de beatificação de João Paulo 2º gerou algumas críticas

A rapidez com que está sendo concluído o processo de beatificação do papa João Paulo 2° é resultado da pressão do setor tradicionalista da Igreja Católica, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.

O papa João Paulo 2° será declarado beato no próximo domingo, dia 1º de maio, após 6 anos e 29 dias de sua morte, que ocorreu em 2 de abril de 2005.

O vaticanista e escritor Giancarlo Zizola, disse à BBC Brasil que a rapidez na conclusão do processo é uma prova de força dos grupos tradicionalistas e está sendo criticada até mesmo dentro da Igreja Católica.

"A ala conservadora tem interesse numa leitura triunfalista do papado de João Paulo 2°, para esconder a obra de seu pontificado atrás de uma auréola sagrada e assim torná-la indiscutível. Este é o ponto crítico da decisão do papa", afirmou.

Segundo o vaticanista, seria necessário mais tempo para analisar toda a documentação de um pontificado que durou quase 27 anos.

Na avaliação de Vittorio Bellavite, coordenador do movimento internacional "Nós Somos a Igreja", que defende a implementação da linha inovadora aprovada durante o Concílio Vaticano II, um pontificado tão longo e complexo deveria levar ao menos 50 anos para ser analisado.

"O tempo necessário seria de 40 ou 50 anos para se ter uma avaliação mais serena, compartilhada e menos emotiva", disse Bellavite.

"No entanto, (a velocidade com que as decisões foram tomadas) passou a linha emotiva dos grupos fundamentalistas que pediam que ele fosse declarado santo já, porque a hierarquia do Vaticano é muito homogênea na posição contrária ao Concilio Vaticano II", acrescentou.

Documentação conhecida

O processo de beatificação de João Paulo 2° é o mais rápido da historia. Madre Teresa de Calcutá, que também teve um processo breve, levou dois meses a mais do que o papa para ser declarada beata. Nos dois casos, os papas em exercício fizeram uma exceção à regra canônica segundo a qual é preciso esperar ao menos 5 anos após a morte para dar início à causa.

Já na visão do vaticanista Jean Marie Guenois, do jornal Le Fígaro, a vida e a documentação de João Paulo 2° eram bem conhecidas e este foi um dos motivos pelos quais o processo foi rápido.

"Seu pontificado ficou sob observação de todos, até da polícia, daí a facilidade e rapidez em estudar o material."

"Além disso, a grande pressão popular para que ele fosse declarado santo imediatamente também teve peso", disse.

Guenois acredita que a canonização de João Paulo 2° também será rápida, embora lembre que seja necessário um outro milagre ocorrido após a beatificação para que ele se torne santo.

Vigor

Muitos não concordam com a aceleração do processo. Há quem veja na rapidez em declarar beato um dos papas mais carismáticos da história a necessidade de dar vigor à Igreja em um momento de grave crise causada pelo escândalo dos abusos sexuais cometidos por sacerdotes católicos em diversos países.

"João Paulo 2° é muito querido pelas multidões e isto vai ajudar a reavivar o lado místico, carismático, da Igreja”, na opinião de Vittorio Bellavite.

Segundo observadores, a rapidez no processo de beatificação no entanto não permitiu esclarecer como o pontificado de João Paulo 2° lidou com os casos de pedofilia.

As notícias sobre os inúmeros casos de abusos sexuais cometidos por Marcial Maciel Degolado, fundador do movimento católico ultraconservador "Legionários de Cristo", muito próximo a João Paulo 2°, surgiram durante o processo de beatificação.

Mesmo informado sobre casos envolvendo Maciel, João Paulo 2º não teria tomado providências para afastar o religioso de suas funções .

Segundo Giancarlo Zizola, contudo, o processo não foi acelerado para tirar o foco do escândalo.

"A Igreja não precisa esconder o escândalo dos olhos dos fiéis, mesmo porque isso estaria em contradição com a decisão de Bento 16 de esclarecer com rigor o problema."

Ele avalia o processo como sendo uma iniciativa política, com o intento de reforçar a figura do papa.

"Os grupos integralistas ganharam grande poder dentro da Igreja durante o pontificado de Wojtyla (João Paulo 2º) e Bento 16 quer trazê-los para dentro de uma disciplina eclesiástica, numa tentativa de reforçar a figura central do papado. Uma espécie de terapia de urgência, nesta fase de crise da Igreja", afirmou.






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