Com 25 anos de catástrofe, Tchernobil convida visitantes
Ao completar 25 anos do acidente nuclear, nesta terça-feira (26), a zona de exclusão que rodeia a usina nuclear de TchernobIl chama ainda mais atenção enquanto convida turistas, que podem conferir pessoalmente a paisagem apocalíptica local.
"Todos os interessados são bem vindos a visitar a região de Tchernobil. Queremos mostrar ao mundo que a Ucrânia já não é uma ameaça nuclear", afirma Oxana Nor, diretora da agência estatal InterInForm, que organiza as viagens ao centro da tragédia.
Os ucranianos querem aproveitar o interesse por tudo o que é nuclear despertado tanto no 25º aniversário da maior catástrofe da história nuclear ocorrida em Tchernobil em 26 de abril de 1986 quanto no recente acidente na usina japonesa de Fukushima.
"Muitos estrangeiros já mostraram um grande interesse em viajar para Tchernobil. Devemos satisfazer a demanda", acrescentou Oxana, que garante que uma visita de várias horas no local é "absolutamente inofensiva para a saúde".
No entanto, antes de obter a permissão para viajar ao local, os visitantes devem assinar um contrato que exime a administração de toda responsabilidade por qualquer prejuízo à saúde do indivíduo.
RESTRIÇÕES E CUSTOS
Além disso, os menores de idade, da mesma forma que as mulheres grávidas e em período de amamentação, são expressamente proibidos de viajar para Tchernobil, usina que foi fechada em 2000, mas que ainda abriga combustível nuclear.
O turista, que recebe um traje especial contra a radiação se desejar, pode viajar em grupo, com pagamento adiantado de US$ 100, ou sozinho acompanhado de um guia, o que custará US$ 500.
Com menos de seis horas de visita, é proibido fumar, sair do itinerário oficial, beber álcool, acender fogo e tocar ou levar algum objeto, sejam pedaços de ferro-velho, plantas ou mesmo simples pedregulhos.
"Nas rotas que escolhemos, as doses de radiação são mínimas e seguras", explica Piotr Valianski, diretor do departamento de Saúde do Ministério de Situações de Emergência da Ucrânia.
Durante a visita, o turista pode utilizar um contador Geiger, que, nas zonas supostamente desativadas de Tchernobil, mostra níveis de radioatividade muitas vezes superiores ao normal.
POLÊMICA
Os ambientalistas são contrários à ideia do turismo no local, por considerarem que a ameaça radioativa está muito presente, enquanto os especialistas consideram que um passeio de algumas horas na região é como fazer um exame de radiografia.
As autoridades negam que tenham aberto Tchernobil ao turismo em massa, já que o objetivo é conscientizar os visitantes sobre as graves consequências para o homem e à natureza da irresponsabilidade no uso da energia atômica.
Só há um tour por semana, com grupos de até 17 pessoas, viagem que inclui o trajeto em ônibus, um almoço no refeitório da usina, onde trabalham centenas de pessoas para garantir sua segurança, e uma visita guiada.
"Este é um território que continuará sendo radioativo durante longo período. Ninguém modificou as leis da física. Alguns elementos radioativos não desaparecerão nem em mil anos", aponta Marina Poliákova, uma das organizadoras das visitas.
Por isso, acrescenta, as idas à Tchernobil "não são visitas turísticas. Turismo é descanso, diversão e alegria. Na região de Tchernobil não há nada disso. Aqui não há turismo. Trata-se de viagens para conhecer a zona de exclusão de Tchernobil. Entende a diferença?".
Contudo, Tchernobil virou manchete e disparou o interesse no início de março com o acidente da usina de Fukushima e, segundo a imprensa local, espera-se que dezenas de milhares de pessoas visitem a área quando a Ucrânia sediar a Eurocopa de futebol em junho de 2012.
Um porta-voz da InterInForm comenta que muitos estrangeiros sentem uma grande curiosidade para ver o que restou da localidade de Pripyat, que se encontra a cerca de quatro quilômetros da usina e é popularmente conhecida como "cidade-fantasma".
Em Pripyat os turistas podem entrar no prédio destruído da escola, onde livros e lápis ainda permanecem nas mesas, e admirar a oxidada montanha-russa, que deveria ser inaugurada uma semana depois da tragédia.
O assombro dos turistas se transforma em inquietação quando são conduzidos até a cerca que impede o acesso ao recinto que acolhe o lendário "sarcófago" construído em apenas seis meses para cobrir o quarto reator estragado.
Por outro lado, muitos cientistas e médicos também visitam a região, interessados em estudar o impacto da radiação na vida animal e vegetal das florestas, rios, lagos e aldeias espalhadas pela zona.
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