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Nacional
Sábado - 23 de Abril de 2011 às 12:11

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Um peixe na água: o título do livro de memórias do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, o peruano Mario Vargas Llosa, define com precisão sua conferência de abertura na Feira do Livro de Buenos Aires, na quinta-feira.

A polêmica começou quando o presidente da Biblioteca Nacional argentina, Horacio González, criticou a homenagem a um liberal convicto no maior evento literário do país.

Sua participação só foi assegurada após a intercessão da presidente Cristina Kirchner. A Argentina se prepara para eleições presidenciais, em 23 de outubro, em meio a acirradas batalhas culturais.

Tão elegante quanto mordaz, Llosa agradeceu: "Agradeço a ela e espero que esse ato em favor da liberdade de expressão e da liberdade na Argentina contagie todos os seus partidários e guie sua própria conduta".

Sedutor, Llosa dissolveu as expectativas de uma participação explosiva recapitulando sua biografia de menino criado em Bogotá até receber o Nobel em 2010. Não deixou, porém, de fazer críticas frontais --não ao governo kirchnerista, mas à história política local.

"O que aconteceu com este país?", perguntou a uma plateia que o ouvia muda. "No começo do século 20, a Argentina era um país de primeiro mundo, enquanto dois terços da Europa eram de terceiro mundo."

E indagou por que o país "que todos invejávamos" perdeu "oportunidades incríveis", cometeu "erros políticos garrafais" e entrou em "crise quase permanente".

Quando o mediador mencionou o elo ideológico do liberalismo com a ditadura militar (1976-1983), que deixou um saldo de 30 mil mortos e desaparecidos, o escritor o cortou afirmando que "associar o liberalismo a uma ditadura é uma obscenidade".

Orgulhoso de seu cosmopolitismo, Llosa relembrou as cidades em que morou: da Paris dos anos 60, que "ajudou a criar o mito da Revolução Cubana como algo sadio", à Madri da década de 80, a "capital-sacristia do mundo" convertida em "capital erótica da Europa".

Também recordou a Londres dos anos 70, "capital de uma nova sensibilidade" (com a cultura das drogas, da liberdade sexual e da filosofia oriental) e relembrou os anos de jornalismo em Lima.

Comentou ainda a experiência de receber o mais prestigioso prêmio literário mundial: "Um Nobel tem uma obrigação enorme: não deixar converter-se em uma estátua".






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