Forças sírias matam 6 em funeral de rebeldes contra ditadura
Tropas do ditador sírio abriram fogo contra opositores que participavam do funeral de manifestantes mortos ontem durante protestos contra o governo do ditador Bashar Assad. Ao menos seis morreram hoje, segundo testemunhas.
Os disparos teriam ocorrido em dois funerais: em Douma (perto da capital Damasco) e no vilarejo de Izraa. No primeiro, quatro teriam sido mortos pelas forças de segurança sírias.
Segundo testemunhas, cerca de 50 mil participaram dos dois funerais. Não se pôde confirmar o relato porque a Síria expulsou e restringiu o acesso de jornalistas ao país. A testemunha falou sob condição de anonimato por temer represálias.
CONFRONTOS
Ontem, mais de 100 pessoas teria morrido num dos dias mais sangrento desde que começaram as manifestações contra o regime sírio, segundo o grupo The Syrian Revolution. Os números divergem de outros previamente divulgados, de 88 vítimas.
Segundo ativistas da oposição, algumas áreas de Damasco amanheceram cercadas pelo Exército e a polícia, enquanto na cidade central de Homs as autoridades rejeitam entregar os cadáveres a suas famílias até que estas digam à televisão que grupos de salafistas mataram seus filhos.
Não houve pronunciamentos do governo de Damasco sobre os distúrbios.
De acordo com organismos de direitos humanos, cerca de 200 pessoas morreram desde que, em meados de março, se intensificaram os protestos políticos na Síria, que começaram em fevereiro.
EUA E FRANÇA CONDENAM
Em reação ao dia mais sangrento da repressão síria aos protestos, o presidente americano Barack Obama pediu o fim "imediato" dos confrontos e condenou o "recurso ultrajante à violência" utilizado pelo governo de Al Assad pra conter as manifestações e apontou ajuda de Teerã a Damasco.
"Este ultrajante uso da violência para conter os protestos precisa ser interrompido imediatamente. Ao invés de ouvir seu próprio povo, Assad está culpando outros enquanto busca auxílio do Irã para reprimir os cidadãos da Síria por meio das mesmas técnicas brutais que já foram usadas pelos aliados iranianos", disse.
Os comentários de Obama chegam pouco após o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, ter conversado com jornalistas durante um voo da comitiva presidencial entre a Califórnia e Washington.
Ele pediu que o governo sírio "interrompa e desista do uso de violência contra manifestantes" e "implemente as reformas prometidas".
A França também exigiu das autoridades sírias o fim do "uso da violência contra seus cidadãos" e a realização de reformas.
"As autoridades sírias devem renunciar ao uso da violência contra seus cidadãos", diz um comunicado da chancelaria francesa lido pela porta-voz Christine Fages.
"Apelamos ao início, sem demora, de um diálogo político inclusivo e que leve a reformas que respondam às aspirações legítimas do povo sírio. O fim do estado de emergência deve ser traduzido em fatos", acrescenta o texto.
ESTADO DE EMERGÊNCIA
Os protestos desta sexta-feira ocorrem apesar da decisão de Al Assad de derrubar o estado de emergência, em vigor no país há quase cinco décadas, e abolir os tribunais de segurança estaduais que operavam fora do sistema judiciário normal para julgar pessoas consideradas dissidentes.
O estado de emergência -- que estava em vigor desde o golpe de Estado de 1963-- dava "carta branca" aos órgãos de segurança para reprimir dissidentes por meio da proibição da aglomeração de mais de cinco pessoas, prisões arbitrárias e julgamentos a portas fechadas, dizem membros da oposição.
Os grupos que convocaram os protestos querem que a data seja celebrada com uma presença em massa nas manifestações que estão convocadas depois das orações das 12h das sextas-feiras, a celebração religiosa semanal mais importante para os muçulmanos.
O logotipo utilizado por um grupo do Facebook onde se concentram as informações dos ativistas da oposição tem uma cruz e uma meia-lua unidas, com as cores da bandeira síria, sobre a frase "Al Gomaa al Azimaa (Grande Sexta-Feira) -- 22 de abril".
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