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Internacional
Sexta - 22 de Abril de 2011 às 01:47

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A ação aérea da Otan na Líbia tornou-se impotente para romper o cerco do ditador Muamar Gaddafi aos rebeldes no oeste do país, que já pedem o envio de uma força internacional por terra. O testemunho é do fotógrafo brasileiro André Liohn, que há duas semanas tem registrado o dia-a-dia de combates na cidade de Misrata, a área mais conflagrada da guerra civil líbia.

Liohn foi o primeiro a divulgar, em sua página no Facebook, a morte de dois premiados fotógrafos na quarta-feira em Misrata.

Tim Hetherington, documentarista britânico indicado ao Oscar, e o fotógrafo americano Chris Hondros morreram após serem atingidos por morteiros disparados pelas forças de Gaddafi.

"Tim e Chris chegaram mortos ao hospital", disse Liohn, que fez o reconhecimento dos corpos. O brasileiro contou que estivera no mesmo local horas antes do ataque e os rebeldes pareciam ter o controle da situação, após ter expulsado as forças do governo da cidade.

Única cidade do oeste da Líbia controlada pelos rebeldes, Misrata está sob ataque há dois meses. O cerco resultou na morte de centenas de pessoas, grande parte civis.

Veterano em coberturas de guerra, Liohn, 36, chegou há duas semanas a Misrata, pelo mar. Para driblar o bloqueio terrestre de Gaddafi, embarcou num pequeno pesqueiro, onde fez a travessia de 40 horas de Benghazi, no leste, até Misrata.

Encontrou uma situação bem diferente da que presenciara no leste do país, região sob controle dos insurgentes.

Em Misrata os rebeldes tem menos armas e estão totalmente cercados. "É uma guerra urbana, e isso neutralizou a ação da Otan, que não pode bombardear as forças do Gaddafi sem atingir civis", diz Liohn.

Ele conta que acompanhou um grupo de rebeldes no resgate de duas famílias que eram mantidas há dois meses como escudos humanos por soldados líbios em Misrata, num local onde tanques estavam posicionados.

"Felizmente a Otan não bombardeou, porque as famílias teriam sido massacradas", afirma o brasileiro.

Além de escudos humanos, as forças de Gaddafi também tem usado bombas de fragmentação, banidas pela lei internacional, diz Liohn. Ele fotografou cartuchos do armamento proibido lançados pelo Exército.

Para os rebeldes, a impotência da ação aérea da Otan (aliança militar do Ocidente) tornou urgente o envio de uma força internacional por terra, diz Liohn. "Eles querem uma força da ONU, com militares experientes para ajudá-los a sair do cerco".

CRÍTICAS AO BRASIL

Liohn conta que o tratamento amigável que recebia dos rebeldes por ser brasileiro esfriou visivelmente depois que o Brasil se absteve na votação que aprovou na ONU a ação aérea contra o Exército de Gaddafi.

Favorável à intervenção de uma força militar internacional por terra na Líbia, o fotógrafo brasileiro não poupou críticas à posição brasileira. "O Brasil foi covarde", diz Liohn. "Um país que pleiteia um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU também tem que assumir responsabilidades".

A obrigação aumenta no caso da Líbia, afirma Liohn, porque há indícios de que o Brasil vendeu armas ao regime de Gaddafi. Na travessia que fez no barco dos rebeldes, Liohn disse ter visto minas terrestres produzidas no Brasil, que foram achadas nos arsenais do Exército.

O fotógrafo brasileiro rejeita as críticas por ter noticiado a morte dos fotógrafos em sua página no Facebook. A mensagem causou incômodo entre alguns de seus contatos, e levantou questões sobre o uso de redes sociais em situações extremas.

"Sei que o Facebook não é a melhor forma de informar a morte de dois colegas", diz Liohn. "Não conheço a família deles e nem seus empregadores. Por isso decidi noticiar pelo Facebook, e não me arrependo".






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