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Internacional
Quarta - 20 de Abril de 2011 às 12:30

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Estrangeiros não são alvo, mas o turismo caiu muito em Acapulco
Estrangeiros não são alvo, mas o turismo caiu muito em Acapulco

A guerra tem um custo, não apenas em termos de vidas, mas também na saúde da economia de um país.

O México, lutando uma guerra violenta contra os cartéis de drogas, parece pouco afetado pelo conflito, mas fazer negócio no país não é fácil para ninguém em tempos de aumento da criminalidade.

A economia mexicana cresce consistentemente, 5,5% no ano passado, e as expectativas otimistas seguem este ano com uma recuperação em relação a recessão americana do ano passado.

O ministro das Finanças mexicano, Ernesto Cordero, disse à BBC que não “há evidências” de que investidores estivessem sendo desestimulados pelo conflito gerado pela presença do crime organizado que usa o México como rota para a droga que chega aos EUA.

Ele chega a sugerir que o turismo, uma das principais formas do México acumular moedas estrangeiras, sofreu pouco com a onda de violência no país. “Temos taxas altas de ocupação (dos quartos de hotel), portanto não parece que estamos sendo muito afetados”, disse Cordero, completando, entretanto, que alguns locais mais violentos deixaram de ser procurados por turistas.

Reputação manchada

Esse foi o caso de Acapulco. O balneário na costa do Pacífico, um das principais destinos turísticos no país, tanto para visitantes internos como estrangeiros, se tornou um dos mais importantes campos de batalha na guerra contra o crime organizado.

Cerca de 700 pessoas morreram em incidentes relacionados com drogas desde 2006 na cidade e tiroteios entre cartéis e Forças de Segurança são comuns.

Turistas estrangeiros não são alvo e o bairro turístico tem sido poupado da violência, mas manchetes como “Acapulco imersa em violência”, que circularam no mundo todo, mancharam a reputação da cidade.

Sentado em uma cadeira em frente à piscina do hotel Copacabana, o chefe de pessoal José Luis Espejel admite que o turismo vem caindo.

Ele fala dos estudantes universitários americanos que costumavam passar suas férias, de fevereiro até abril, ao sul da fronteira, atrás de temperaturas mais altas e festas.

Mas após o aviso do governo americano desaconselhando os cidadãos do país a viajar ao México, Acapulco sumiu do radar nesta temporada.

Espejel disse que no ano passado, cerca de 2,6 mil estudantes lotaram seu hotel, mas apenas 60 estiveram lá este ano.

Números oficiais indicam que o turismo caiu até 93% na época das férias de primavera nos EUA, comparado com 2010.

E isto teve um grande impacto sobre as finanças da cidade.

“Não há trabalho”, diz ele.

“Baixa ocupação, não há receita e obviamente, lucros. E não são apenas os hotéis, todos são afetados, restaurantes, bares e gente vendendo coisas nas praias”, afirma.

Bons números

Mas, de acordo com dados do governo, cerca de 22 milhões de turistas visitaram o México em 2010, um aumento de 4,4% em relação a 2009.

Críticos dizem que o aumento não é motivo de comemoração, já que o número de turistas havia declinado bastante em 2009, quando o México se tornou o primeiro país a relatar casos de gripe suína.


Cerca de 700 pessoas morreram em Acapulco desde 2006
Outras áreas da economia mostram sinais positivos mais contundentes.

O anúncio feito este ano pela gigante Americana Wal-Mart, de que pretende investir mais de US$ 1 bilhão no mercado mexicano, foi saudado pelo governo como outro sinal de que os investidores não estão assustados pelo aumento da criminalidade.

Antonio Ocaranza, porta-voz da Wal-Mart no México, diz que apesar de algumas mudanças nos hábitos de consumo dos mexicanos - que, por exemplo, passaram a evitar fazer compras após o anoitecer -, as vendas continuam a crescer.

“Vemos que, além das circunstâncias atuais que afetam algumas cidades do país, acredito que este é um país que, apesar do que acontece atualmente, tem enormes possibilidades de crescimento”, diz Oacaranza.

De fato, o México figura bem no relatório do Banco Mundial sobre facilidade de se fazer negócio, no tocante a dificuldades de se abrir uma empresa ou acessar crédito, entre outros critérios. E foi o país melhor posicionado de toda a América Latina.

O desemprego é o menor das Américas e um dos menores entre países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Extorsão

Mas alguns argumentam que, se a economia mexicana mostra bons sinais, a violência a impede de estar ainda melhor.

Recentemente, o economista-chefe do banco BBVA, um grande investidor no país, calculou uma cifra para isto.

“Se não fosse a violência, a economia mexicana teria crescido 1% acima do que cresceu nos últimos anos”, disse Jorge Sicília.

Isto é atribuído por muitos não apenas ao investimento adicional em medidas de segurança para as empresas, mas também ao fato de que vários cartéis se sofisticaram, ampliando seus negócios para os ramos de sequestro e extorsão.

Pesquisa feita pela Câmara Americana do Comércio com mais de 500 empresários sugere que 67% deles se sentem menos seguros em fazer negócios no México em relação ao ano passado.

A Câmara da Nacional da Indústria de Transformação (Canacintra), calculou que até 10 mil pequenas e médias empresas fecharam durante 2010 nas áreas mais afetadas pela violência.

Muitos deles sofreram extorsões ou ameaças de criminosos que exigiram o pagamento de ”taxas” em troca de segurança.

"Coletar pagamento"

Este é o caso de uma empresária da região central do México que prefere permanecer anônima.

A mulher disse à BBC que, há seis meses, ela e o marido, proprietários de uma bem-sucedida empresa de tamanho médio, recebeu a visita de um grupo armado que se identificou como sendo integrantes da gangue La Família.

Eles pediram cerca de US$ 4 mil mensais e ameaçaram matá-los e a suas famílias caso se recusassem a fazer os pagamentos.

Temendo retaliações dos criminosos, caso alertassem as autoridades, eles decidiram pagar.

“Eles apareciam todo mês para coletar o pagamento”, diz ela, visivelmente nervosa enquanto é entrevistada na cidade do México.

Episódios como este fazem muitos no México temer que, à medida em que cresce a guerra contra o narcotráfico, outras partes do país comecem a viver as turbulências já vistas em Acapulco.






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