Polícia ataca manifestantes, após Síria denunciar "insurreição armada"
Forças de segurança da Síria abriram fogo contra uma enorme manifestação contra o governo na terceira cidade do país, Homs, de acordo com testemunhas.
A intervenção ocorreu horas depois de o Ministério do Interior ter dito que os protestos contra o governo de Barhar al-Assad eram uma "insurreição armada" que não seria tolerada.
Forças de segurança entraram na principal praça de Homs antes do amanhecer. Um manifestante disse á BBC ter visto ao menos uma pessoa morta.
Ativistas de defesa dos direitos humanos dizem que cerca de 200 sírios morreram em semanas de protestos contra o governo.
Ao menos 5.000 manifestantes haviam ocupado a Praça do Relógio em Homs na segunda-feira, após os funerais de 12 manifestantes mortos por forças do governo no fim de semana.
Os manifestantes estocaram comida e suprimentos, ergueram postos de checagem em torno da praça para, segundo eles, impedir a entrada de pessoas armadas no local. Um dos manifestantes disse que a praça tinha sido rebatizada Tahrir Square, nome da praça que foi o epicentro dos protestos no Cairo que derrubaram o presidente egípcio Hosni Mubarak.
Na Síria, os protestos se espalharam por Homs e pela cidade de Baniyas, no norte.
Os protestos contra o governo sírio se intensificaram em Homs depois que as autoridades entregaram o corpo do líder tribal Abu Moussa, no sábado. Ele teria sido morto enquanto estava preso.
Walid Saffour, presidente do Comitê dos Direitos Humanos da Síria, organização baseada em Londres, disse à BBC que acredita que Abu Moussa tenha sido torturado.
"A barba dele estava queimada e ele morreu sob tortura em uma das agências de segurança de Homs, provavelmente em uma agência de segurança militar", disse.
Segundo o ativista, depois que o corpo de Abu Moussa foi levado para o sepultamento no cemitério da cidade, "muitas pessoas foram para as ruas de Homs, gritando e pedindo por liberdade e até por uma mudança no sistema".
Saffour afirma que o governo deve ser responsabilizado pelas mortes dos cidadãos sírios.
"É um genocídio e um massacre contra a humanidade", disse.
REFORMAS
Os protestos configuram o maior desafio ao governo do presidente Bashar al-Assad desde que ele sucedeu seu pai no poder, há 11 anos.
No sábado, Assad prometeu reformas no país como forma de acalmar os manifestantes e afirmou que deve revogar nos próximos dias o estado de emergência que vigora na Síria há quase 50 anos.
Parte dos manifestantes diz que as concessões feitas pelo governo até agora são insuficientes.
Já a agência oficial de notícias síria Sana chegou a noticiar que "a calma prevalece" na maior parte do país, refletindo a suposta "satisfação popular" com as reformas de Assad.
A agência relatou, no entanto, que três oficiais do Exército, incluindo um general, com seus dois filhos e um sobrinho, foram vítimas de uma emboscada. Eles teriam sido mortos no domingo por "gangues criminosas" e teriam sido mutilados.
Em uma declaração, o Ministério do Interior sírio disse: "O curso de eventos anteriores (...) revelou que eles são parte de uma insurreição orquestrada por grupos armados pertencentes a organizações salafistas, especialmente em Homs e Banias (outra cidade que teve protestos antigoverno no domingo)". O Ministério disse
ainda que as ações não serão toleradas.
Analistas dizem que a atribuição dos protestos a salafistas, um grupo islâmico sunita visto como extremista, é uma ameaça aos protestos pacíficos.
Os Estados Unidos também se mostraram preocupados com a reposta síria às manifestações.
Segundo o porta-voz do Departamento de Estado americano Mark Toner, o presidente Assad está enfrentando "um empurrão de seu próprio povo para se mover para uma direção mais democrática" e disse que o governo "precisa lidar com as legítimas aspirações de seu povo".
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