Uma equipe de astrônomos anunciou nesta terça-feira que o resultado de um novo estudo os leva a acreditar que as primeiras galáxias foram formadas apenas 200 milhões de anos depois do Big Bang, o que desafia o conhecimento atual sobre como o Universo evoluiu em seus primeiros tempos.
As evidências coletadas para este estudo vieram de uma galáxia remota, cujo brilho enfraquecido revelou a presença de estrelas muito antigas. "Descobrimos uma galáxia distante que começou a formar estrelas apenas 200 milhões de anos depois do Big Bang", indicou Johan Richar, principal autor do trabalho, astrofísico do Observatório de Lyon, no sul da França.
"Isso desafia as teorias sobre quão cedo as galáxias se formaram e evoluíram nos primeiros anos do Universo. Pode até ajudar a resolver o mistério de como a névoa de hidrogênio que se espalhava por todo o Universo no começo foi dissipada", explicou.
A mais antiga galáxia detectada e confirmada até hoje pelos cientistas foi criada há cerca de 480 milhões de anos após o Big Bang. Sob todos os aspectos, esta nova descoberta parece representar um recorde.
Entretanto, ainda não se pode afirmar isto, porque a descoberta foi feita indiretamente, e não por observação direta, disse Richar. A equipe do astrofísico utilizou uma técnica chamada de lente gravitacional, o que significa que a luz da galáxia foi observada pelos telescópios orbitais Hubble e Spitzer depois de ter sido amplificada pelo empuxo gravitacional de uma segunda galáxia - que, por arte do acaso, está situada em uma linha reta em relação à Terra.
Sem esta amplificação gravitacional, a luz desta galáxia distante, extremamente fraca, seria indetectável. Utilizando o telescópio de espectroscopia nuclear Keck II, situado no Havaí, para analisar a luz, os astrônomos descobriram que o espectro vermelho da galáxia - característica que denuncia sua idade - indicava 6.027.
Traduzindo para termos leigos, isto significa que a luz observada hoje pelos cientistas na Terra foi emitida quando o Universo tinha 950 milhões de anos. A título de comparação, a mais antiga galáxia descoberta até hoje, em janeiro deste ano, apresentava um espectro vermelho de 10.3.
Entretanto, escondidos na montanha de dados infravermelhos coletados pelo Spitzer estavam sinais de que muitas estrelas da galáxia eram surpreendentemente antigas, e seu brilho, relativamente fraco.
"Isso nos mostrou que a galáxia era composta de estrelas com quase 750 milhões de anos de idade - indicando a época de sua formação em aproximadamente 200 milhões de anos depois do Big Bang, muito mais cedo do que imaginávamos", ressaltou Eiichi Egami, da Universidade do Arizona.
De acordo com a teoria do Big Bang, o Universo se originou de uma explosão há cerca de 13,7 bilhões de anos, e então começou a se expandir.
Depois que o recém-nascido cosmos esfriou um pouco, elétrons e prótons se uniram para formar o hidrogênio, o mais primitivo dos elementos químicos, e, durante centenas de milhões de anos, este gás preencheu o Universo.
Como esta névoa de hidrogênio finalmente se dissipou é um dos maiores mistérios da Astronomia. Uma das hipóteses é que a radiação emitida pelas galáxias tenha ionizado o gás. Mas isto seria impossível, já que certamente não havia galáxias suficientes para que isto acontecesse.
A resposta, na verdade, pode ser simples, segundo Jean-Paul Kneib, astrofísico do Centro Nacional Francês para a Pesquisa Científica (CNRS), em Marselha.
"Parece provável ter havido, de fato, mais galáxias nos primórdios do Universo do que estimávamos - o problema é que muitas galáxias estão velhas e fracas, como esta que acabamos de descobrir", explicou o cientista em uma nota à imprensa.
"Se este exército invisível de galáxias velhas e de luz fraca realmente existe, elas podem ter providenciado a radiação necessária que tornou o Universo penetrável à luz ultravioleta", concluiu.
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