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Internacional
Segunda - 11 de Abril de 2011 às 22:16

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RIKUZENTAKATA, Japão, 11 Abr 2011 (AFP) -Futoshi Toba tornou-se um dos símbolos do estoicismo japonês perante a catástrofe: apesar da perda de suas esposa, levada pelo tsunami, o prefeito da devastada cidade de Rikuzentakata ajuda as vítimas dia e noite.

Há exatamente um mês, no dia 11 de março, quando foi lançado o alerta de tsunami após o tremor de magnitude 9, Toba foi confrontado por um duro dilema: ou tentava salvar sua família, ou permanecia em seu posto para supervisionar as operações de resgate.

O prefeito, de 46 anos, escolheu a segunda opção e não parou de trabalhar desde então, a não ser para incinerar sua esposa, cujo corpo foi encontrado sob os escombros de Rikuzentakata, uma das cidades costeiras mais afetadas pelo desastre.

Nesta segunda-feira, quando a tragédia que deixou mais de 27 mil mortos e desaparecidos completou um mês, um novo tremor de 7,1 graus ocorreu no nordeste do Japão.

Dos 23 mil habitantes de Rikuzentakata, um em cada dez morreu pelas ondas gigantescas que atingiram a cidade no dia 11 de março, submergindo seu porto e sua parte mais baixa.

"Para ser honesto, quando o tsunami se aproximava, ficava preocupado, sobretudo, minha mulher e meus filhos", afirma Toba, interrogado pela AFP em um centro de acolhimento para os evacuados.

"Pensei em pegar meu carro e ir buscá-los. Mas, como prefeito, me vi obrigado a decidir o que era mais importante: cumprir com seu dever ou salvar a família?".

Sua voz é entrecortada pela emoção. "Meu coração transborda de tristeza. Não posso pedir desculpas à minha mulher", afirma.

Futoshi Toba ainda não teve coragem de anunciar a morte da mãe aos seus dois filhos, de 10 e 11 anos, mas suspeita de que eles já tenham adivinhado a verdade.

Como 90% da cidade ficou devastada, foram lançadas operações de limpeza e reconstrução. Até agora, cerca de 30 famílias dos atingidos puderam se abrigar em casas temporárias.

"É ainda difícil contemplar uma volta à normalidade enquanto ainda houver gente desaparecida", assegura Toba, que perdeu 68 funcionários municipais, um terço do total.

O tsunami também destruiu os pisos inferiores da prefeitura, os equipamentos de comunicação que se encontravam no local, assim como estantes cheias de documentos oficiais.

O prefeito teme que muito sde seus habitantes prefiram deixar a cidade em vez de esperar que ela volte ao normal.

"Aqui, todo o mundo ama Rikuzentakata, já que é nossa cidade", afirmou uma Ryo Yamazaki, de 26 anos, cuja mãe está desaparecida. "Mas é preciso ser realista: as pessoas não vão esperar 10 ou 20 anos para reconstruí-la", garante.

Ao inspecionar os danos causados à prefeitura, um funcionário municipal de 69 anos ressalta os erros que não devem voltar a ser cometidos. "Por exemplo: a prefeitura estava construída a apenas 1,2 metro acima do nível do mar!".

"Esquecemos as lições de nossa história... Vivemos atraídos pela beleza de viver junto ao mar. No fundo de cada um de nós, sabíamos que um tsunami ocorreria cedo ou tarde, mas fomos muito complacentes", lamenta.





Fonte: AFP

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