Jovens contam histórias de assassinato de amigos e familiares
"Foi uma covardia. Ele chegava perto dos meus amigos que estavam no chão, demorava um pouco e dava tiro na cabeça, no tórax."
Mateus, 13, viu sete amigos serem mortos na quinta-feira. Ele estava na aula de português quando um ex-aluno abriu fogo contra estudantes da escola municipal Tasso da Silveira, no Rio.
Em entrevista após o massacre, o garoto foi claro: "Não vou ter mais coragem de estudar nessa escola".
Testemunhada ou não, a morte de amigos deixa sequelas.
Rita*, 14, viu a amiga Bianca ao vivo uma única vez. As duas, que se conheceram por Twitter, eram donas de fã-clubes da banda Restart.
Rita sabia que a amiga estudava em Realengo. "Fiquei desesperada quando vi o caso na TV. Perguntei no Twitter se alguém sabia dela, e me deram a notícia." Bianca estava morta, assassinada com outros 11 colegas.
Rita "pensa o tempo todo" no que ela passou, mas tenta evitar. "Ficar lembrando é muito ruim."
Amanda*, 11, mudou de escola no final do ano passado. A razão: seu irmão mais velho foi assassinado na entrada do ex-colégio, por causa de inimizades no bairro.
"Ir à escola fazia eu sempre me lembrar dele", diz.
Letícia, 20, estava vendo "algum seriado meio família" na TV, num domingo, quando o telefone tocou.
Era um tio para avisar da morte do irmão, 18, com quem ela aprendeu a tocar violão e a gostar de Nirvana. Há sete anos, ele voltava de uma festa e levou um tiro.
Meses depois, irritou-se com "consolos genéricos". "Enjoei de as pessoas falarem: "Você precisa ser forte!". Ser a pessoa mais forte do mundo não é o suficiente."
GOIÁS
Na semana passada, Kelly, 18, soube que sua irmã foi encontrada morta na fazenda da família da namorada, em Goiás. Adrieli, 16, desapareceu em março, após receber uma ligação do irmão da namorada. Não voltou mais.
Ele confessou o crime. Morta a facadas, Adrieli foi enterrada num buraco.
"Tiveram que me segurar. Eu tremia", afirma a garota.
Tatiana*, 17, também reagiu com choque ao saber que o namorado tinha sido morto, alvejado por oito tiros.
"No começo, não acreditei. Comecei a rir. Depois, comecei a chorar e a rezar."
Hoje, ela diz dar mais valor aos amigos. "Nunca se sabe o dia de amanhã, posso perder outra pessoa querida", diz. "Ele era meu amor de infância, sempre gostei dele."
*Nomes fictícios
LISTA NEGRA
Todos se mataram após massacrar
1. Wellington de Oliveira, 23, matou 10 meninas e dois meninos em uma escola no Rio na quinta-feira. Morreu com um tiro na boca.
2. Pekka-Eric Auvinen, 18, matou seis colegas, a enfermeira da escola e o diretor, na Finlândia, em 2007. Na sequência, se suicidou
3. O sul-coreano Seung-Hui Cho matou 32 e feriu 19 antes de se matar na Virginia Tech University, onde estudava, em 2007
4. Kimveer Gill, 25, matou uma estudante e feriu 19 em uma escola canadense em 2006. Suicidou-se com a chegada da polícia
5. Dylan Klebold, que, ao lado de Eric Harris, matou 12 alunos e um professor na Columbine High School em 1999, no Colorado, EUA. Cometeram suicídio juntos
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OUTRAS HISTÓRIAS
NA LITERATURA
Lionel Shriver escreveu em 2005 o impressionante "Precisamos Falar Sobre o Kevin" (ed. Intrínseca), em que uma mãe narra ao ex-marido a história do filho de 15 anos, que invade a escola e mata 11 colegas e professores, entre outros
NO CINEMA
O massacre de Columbine, em que dois estudantes mataram 12 colegas e um professor em 1999, inspirou dois filmes premiados: a ficção "Elefante" (foto), de Gus van Sant, e o documentário "Tiros em Columbine", de Michael Moore.
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