"Meridiano Azul" viaja pelo imaginário dos EUA desconhecidos
Cairo, Illinois. Na pequena cidade onde se encontram dois dos mais importantes rios da América do Norte, o Ohio e o Mississippi, a diretora belga Sofie Benoot inicia uma jornada pela região dos EUA que ela chama de "Sul profundo". A viagem compõe a narrativa do documentário "Meridiano Azul".
Longe da imagem pulsante e rica dos grandes centros urbanos do país, a cidade, que perdeu quase 90% dos 20 mil habitantes que tinha no início do século passado, é uma prévia da desolação que o filme mostrará até o golfo do México.
No percurso, o espectador é apresentado a diversos residentes da região, que falam sobre suas vidas, sobre Deus, a crise econômica, o furacão Katrina. E também cantam.
"Os lugares que visito são muito importantes para a fundação da mitologia dos EUA, mas suas histórias permanecem desconhecidas", afirma Benoot. "Meridiano Azul" é a segunda parte de uma trilogia, ainda inacabada, sobre tais regiões "profundas" do país.
Ao escolher o Mississippi como fio condutor, a diretora não considera apenas sua posição geográfica, mas também o lugar que ocupa no imaginário americano. "Ele define as fronteiras entre o Leste e o Oeste do país, mas também a divisão entre o Norte e o Sul. Ele representa as relações complexas entre terra e identidade nos Estados Unidos."
Tais relações se evidenciam nos depoimentos dos personagens. Uma senhora negra, fundadora de sua própria igreja, ensina jovens a não nutrir ódio pelos brancos. Um delegado da Louisiana relata como as prisões se tornaram uma das principais fontes de receita das cidades no entorno.
Outro homem conta a história da invasão silenciosa do kudzu, uma erva trazida do Japão que cresceu como praga por sobre plantações e casas abandonadas. "Uma espécie de símbolo da decadência", segundo Benoot.
Mais do que decadência, ela reconhece, sua câmera registra os Estados Unidos que precisam conviver com a pobreza. "O Sul tem uma história de guerra civil, catástrofes, luta por direitos, degradação da agricultura. Sempre foi uma região de dificuldades. É uma América em constante luta e ruína."
MERIDIANO AZUL
DIREÇÃO Sofie Benoot
QUANDO hoje, às 15h, no CCBB-SP, em São Paulo; e às 20h, no CCBB-RJ, no Rio
CLASSIFICAÇÃO 14 anos.
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