O coordenador regional de comunicação desse serviço para a América Latina e o Caribe, o haitiano Wooldy Edson Louidor, afirmou que "há uma rede internacional de traficantes de haitianos que operam desde Haiti e Equador e a partir dali operam em toda a região da América do Sul".
O coordenador nacional do serviço jesuíta no Equador, Fernando León, mencionou que na semana passada 33 haitianos que permaneciam trancados em uma casa foram libertados no país.
Estes haitianos, que tinham entre 18 e 23 anos, tinham chegado ao Equador com a promessa de que iriam estudar, disse León ao denunciar o que chamou de uma "nova forma de escravidão".
Depois do terremoto do ano passado, a maioria dos haitianos que emigram são jovens que buscam oportunidades de estudo, afirmou Louidor.
Ele ressaltou que diante da crescente rede de tráfico de haitianos na América do Sul, os Governos deveriam realizar uma estratégia regional que "diferencie os criminosos das vítimas".
Antes do terremoto que devastou o Haiti em 12 de janeiro de 2010, nos outros países da América Latina havia cerca de 75 mil haitianos, mas, depois do desastre natural, "o número aumentou", embora não existam dados exatos.
Essa dificuldade de saber o número exato de emigrantes se dá porque eles frequentemente cruzam as fronteiras terrestres "irregularmente", disse Louidor.
Além disso, explicou que antes os haitianos iam para a Guiana francesa pela facilidade do idioma, mas agora este país impôs políticas muito duras para a entrada destes imigrantes. Por isso, eles vêm buscando novos destinos como o Brasil.
A maioria deles sai de seu país por República Dominicana ou Cuba e entra na América do Sul por Equador ou Chile, para depois ir a outros países como Peru, Venezuela ou Brasil em busca de trabalho, de acordo com o serviço jesuíta.
Segundo Louidor, o terremoto fez com que as rotas sejam mais complexas porque, enquanto antes eles iam praticamente só para os países vizinhos, agora se deslocam até lugares mais distantes e utilizam mais países de passagem para chegar a seus destinos.
O representante regional do serviço manifestou sua preocupação com a situação humanitária no Haiti, agravada após o terremoto e que, unida à incapacidade do Governo local e da comunidade internacional de melhorar esta situação, faz com que os haitianos se vejam obrigados a emigrar.
Louidor denunciou que, além da Guiana Francesa, o Brasil também endureceu a política migratória em relação aos haitianos - que, segundo ele, muitas vezes são vistos "como criminosos" - em vez de proporcionar a eles ajuda humanitária.
Por sua vez, León, quem louvou o esforço do Governo equatoriano no atendimento aos haitianos, propôs a criação de uma "via humanitária" que sirva para atender casos como os das pessoas que fogem do país caribenho pela falta de recursos.
Louidor disse que a ONU fracassou no Haiti, porque, diante da instabilidade política e da crise humanitária agravada pelo terremoto, respondeu com o envio de mais soldados.
"Preservar a paz no Haiti não se dá com o envio de militares, mas com o desenvolvimento social e econômico e com o fortalecimento das instituições democráticas", ressaltou.
Além disso, segundo Louidor, na hora de criar programas de cooperação no Haiti, a organização excluiu tanto o Governo quanto os habitantes do país.
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