Pessoas que se expõem muito ao alto risco de assalto no trabalho, como funcionários de agências bancárias, tendem a ter sérios problemas emocionais. Pessoas que passaram pela situação real de assalto a banco ou sequestros ficam chocadas por muito tempo, podem sofrer consequências psicológicas, e até traumas.
Para ajudar no controle desses traumas, pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul decidiram usar a tecnologia 3D no tratamento dos chamados Transtorno de Estresse Agudo (TEA) e Transtorno de Estresse Pós-Traumático tendo em vista que a cidade de Porto Alegre registrou 105 casos de ataques a banco em 2010.
O tratamento desses transtornos é feito a partir da Psicoterapia Cognitivo-Comportamental, atrelada ao uso de um programa com realidade virtual em 3D, utilizado e desenvolvido pelos pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). O software foi criado em parceria pelos acadêmicos dos cursos de pós-graduação em Psicologia e de Ciências da Computação.
A estratégia do tratamento com realidade virtual em 3D, segundo Christian Kristensen, coordenador do projeto e integrante do grupo Cognição, Emoção e Comportamento, é diminuir os transtornos por meio da simulação repetida de assaltos e do tratamento posterior para medir os sintomas pós-traumáticos.
O programa não está totalmente concluído, mas já foi testado em seis pacientes. "Os resultados são preliminares, mas indicam que há contribuição da realidade virtual na redução dos sintomas pós-traumáticos", disse Kristensen, que também é coordenador do programa de pós-graduação de Psicologia da universidade.
Como funciona
Segundo a psicóloga Patrícia Mello, integrante do grupo de pesquisa, os pacientes passam por situações muito parecidas com as quais viveram nos assaltos nas agências por volta de seis vezes. Estas seis simulações são parte de um total de 18 sessões, que ainda incluem 50 minutos de terapia, onde os pacientes revelam suas angústias e medos.
"Espera-se que revivendo a experiência em um ambiente seguro, com o apoio do terapeuta, o paciente seja capaz de enfrentar seus medos e observar os recursos pessoais que possui para enfrentar situações difíceis. Assim, o paciente terá mais coragem e motivação para voltar às suas atividades, sem sofrer com isso", disse Patrícia.
Em um ambiente virtual que o paciente acessa por meio de um óculos especial, é criado uma cena dentro de um agência bancária com auxílio do software de modelagem geométrica tridimensional. "Neste software são criadas as superfícies que descrevem a forma de objetos como mesas, cadeiras, computadores, paredes e outros artefatos. A fim de prover uma aparência mais real às cenas, foram obtidas imagens reais de objetos", revelou Márcio Pinho, Coordenador do Grupo em Realidade Virtual do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Computação da PUCRS.
Para fazer o movimento dos personagens e permitir a interação do pacientecom a cena, foi usada a plataforma de um jogo de computador, segundo Pinho. A plataforma dá suporte para a apresentação de diálogos dos bandidos e a geração de sons de tiros.
O projeto foi financiado pela PUCRS e pela a Fundação da Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Sua expansão dependerá da extensão de convênios com o Hospital São Lucas da PUCRS e os planos de saúde de instituições bancárias. De acordo com os representantes do grupo de pesquisa, a terapia com realidade virtual é inédita no Brasil para o tratamento de traumas.
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