Detentos que fugiram do Ferrugem denunciam falta de comida e remédi
Os reeducandos José Lino da Silva, de 42 anos, e Claudecir Pereira da Silva, 30, que fugiram do Presídio Ferrugem, em Sinop, na última segunda-feira, por um túnel de quase 30 metros, e foram capturados ontem, por policiais no município de Vera (480 km de Cuiabá), denunciaram, em entrevista aos repórteres Agenor Borman e Itamar Cavalcanti, situações caóticas dentro da unidade e clamam por direitos humanos.
A entrevista, dividida em três vídeos, foi dentro de uma cela na Cadeia Pública de Vera, logo após serem pegos na mata. Os dois detentos reclamam da escassez de comida na unidade prisional. “Eu ajudei cavar o túnel e fugi porque estava morrendo de fome lá dentro. O café chega por volta das 11h da manhã. O almoço depois das 2h e não vem quase nada”, denuncia Claudecir.
O detento pede que as gravações sejam enviadas para os direitos humanos em Cuiabá. “Não tenho arrependimento nenhum de fugir, estou passando fome dentro da cadeia. Nunca foi os direitos humanos lá dentro, não conseguimos falar com diretor do presídio, nem com promotor de Justiça, dizem que estão sempre ocupados”, aponta. Os dois, no entanto, poupam os agentes prisionais e dizem que estes não agem com violência. “Com os agentes é tudo tranquilo”, fala o capturado.
O repórter Agenor quer saber se há atendimento médico e tratamento de saúde. “Não é todo dia que vai enfermeira, tem dia que vai, dia que não vai. Assistente social foi uma vez nos dois anos e meio que estou lá. Quando fica um preso doente, se um colega de cela tiver remédio guardado, toma, se não, fica sem, por conta de Deus”, diz.
Perguntado a forma de como o túnel é escavado, o homem fala que é difícil começar o buraco, por causa do concreto, mas se todos os detentos da cela quiserem, fazem o túnel e fogem. “Se todos pegar e falar, vamos fugir, faz o buraco e foge mesmo, ninguém segura”, diz.
Claudecir cumpre, no Ferrugem, pena de 25 anos de reclusão por latrocínio (roubo seguido de morte) cometido no município de Alta Floresta. Já, José Lino, disse que foi preso com oito gramas de cocaína e ainda não foi julgado, apesar de estar há mais de um ano preso.
Olhar Direto tenta desde o começo da manhã falar com o diretor da unidade, Rudimar Sauer, mas o celular está desligado. No telefone fixo do Ferrugem a informação é que ele não estava.
Já o 3º promotor de Justiça Criminal da Comarca de Sinop, Thiago Henrique Cruz Angelini, atendeu a reportagem e informou que há visitas na unidade prisional e acompanhamento de processos. Porém, devido à alta demanda, o atendimento é feito por amostragem. “Pelo menos uma visita até o dia 25 de cada mês é feita, com as verificações de praxe. Conversamos com presos por amostragens. Às vezes separamos reeducandos idosos, outras vezes os internados na enfermaria, os mais antigos da unidade, e assim por diante”, informou o promotor.
Thiago também afirma que, apesar de a demanda ser alta, os processos de reeducandos em regime fechado estão rigorosamente em dia por parte do Ministério Público. Perguntado sobre o alto volume de presos naquela penitenciária, o promotor apontou que resolver isso é atribuição do Poder Executivo. “A questão da superpopulação prisional é um problema de natureza objetiva, mas o secretário de Justiça [Paulo Lessa] nos informou ontem que o Estado está empenhado em tentar solucionar o problema”.
Quando foi construída, em 2005, a penitenciária era projetada para abrigar 300 reeducandos. Conforme recontagem feita ontem, o Ferrugem está com mais de 650 detentos.
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