Empresas de radares que doaram em campanhas são investigadas
Empresas de radares que doaram dinheiro para campanhas eleitorais em prefeituras de capitais brasileiras são investigadas por suspeita de favorecimento indevido em licitações.
As companhias são contratadas para monitorar o trânsito e aplicar multas. Nos últimos dez dias, as prefeituras de Aracaju (SE) e Curitiba (PR) suspenderam contratos em vigor, enquanto o governo gaúcho cancelou uma licitação em andamento.
Em Manaus, a empresa paulista Consladel, que doou R$ 75 mil para a campanha de Amazonino Mendes (PTB) em 2008, venceu licitação de R$ 92 milhões para um contrato que incluía de gerenciamento do trânsito a obras e serviços de mobilidade urbana na capital amazonense.
Em 2009, 11 empresas compraram o edital da licitação, mas a única a apresentar a proposta foi a Consladel. O fato de não ter tido adversários em um contrato com tanto dinheiro envolvido despertou suspeita da oposição.
"Foi uma licitação-alfaiate, que serviu exatamente para favorecer a Consladel. O contrato é um escândalo", afirma o deputado estadual Marcelo Ramos (PSB).
Outro adversário do prefeito, o deputado federal Pauderney Avelino (DEM), pediu ao Ministério Público que investigue o contrato. As denúncias estão sendo apuradas pelo braço de combate ao crime organizado da Promotoria.
No Paraná, o Ministério Público instaurou uma investigação sobre o contrato entre a Prefeitura de Curitiba e a Consilux Tecnologia. A empresa recebia R$ 725 mil por mês.
A Consilux operava os radares da cidade desde 1999, mas o último contrato foi assinado em fevereiro de 2010, quando o atual governador do Estado, Beto Richa (PSDB), era prefeito. O contrato foi rescindido pelo sucessor e aliado de Richa, Luciano Ducci (PSB), no último dia 15.
A Consilux não financiou Richa diretamente em 2008, mas o diretor-presidente da empresa, Aldo Vendramin, aparece como doador de R$ 1.000 para a campanha, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O valor é irrisório diante dos R$ 6,9 milhões arrecadados à época.
PRESO
Cancelamentos de licitações e suspensões de contratos ocorreram após reportagem do programa "Fantástico", da TV Globo, mostrar representantes de empresas discutindo direcionamento de concorrências e pagamento de supostas propinas.
No Rio Grande do Sul, o então chefe do setor de radares do Daer (autarquia estadual de estradas), Paulo Aguiar, está preso. Ele foi apontado como dono de uma empresa ligada à suposta fraude. O governo Tarso Genro (PT) afastou o funcionário e suspendeu uma licitação em andamento.
OUTRO LADO
A assessoria do prefeito Amazonino Mendes disse que a licitação foi legal e que a única empresa a se habilitar foi a Consladel. Sobre a denúncia de direcionamento, afirmou que cabe ao deputado Ramos provar a acusação.
Segundo a prefeitura, o valor de R$ 92 milhões é uma estimativa, e o gasto pode não se concretizar. A assessoria negou ainda relação entre a vitória da Consladel e a doação de R$ 75 mil à campanha eleitoral.
Por sua vez, a Consladel disse que a licitação obedeceu à lei e negou relação entre a vitória e a doação registrada na Justiça Eleitoral.
O presidente da Urbs (estatal de trânsito de Curitiba), Marcos Isfer, disse que apoia a investigação da Promotoria e afirmou que o contrato com a Consilux foi rompido porque a "empresa perdeu credibilidade" ao ser citada em reportagem do "Fantástico".
A Consilux disse que não se manifestará sobre a rescisão, que venceu a licitação por oferecer um preço mensal quase R$ 300 mil abaixo do estimado e que não há ligação entre a vitória e doações de seus dirigentes.
A Prefeitura de Aracaju defendeu a legalidade dos contratos com as empresas Eliseu Kopp (RS) e Splice (SP) e disse que a suspensão foi preventiva. As empresas não comentaram a suspensão dos contratos em Sergipe porque não foram notificadas.
O advogado Daniel Gerber, que defende o ex-coordenador de radares do RS Paulo Aguiar, alega que seu cliente é inocente e nunca participou de fraudes.
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