Importado fica mais caro e agora pressiona inflação
Os produtos importados, que ajudaram a aliviar a alta dos preços nos últimos dois anos, estão agora contribuindo para aumentar a inflação no Brasil.
A pressão extra pode dificultar ainda mais a batalha do governo para trazer a inflação de volta ao centro da meta, estipulada em 4,5% pelo Banco Central. A margem de variação é de até 6,5%. Em 12 meses, o índice está acumulado em 6%.
A recuperação econômica mundial provocou a valorização das commodities (insumos básicos com preços ditados pelo mercado externo) nos últimos meses. Mais recentemente, está levando também à recomposição de preços dos manufaturados --que tinham ficado mais baratos após a crise de 2008.
Dados da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior) obtidos pela <BF>Folha<XB> mostram que os preços em dólar dos importados subiram pelo quinto mês seguido em fevereiro, acumulando alta de 5,8% em 12 meses. Há um ano, eles recuavam 11,6%.
"Os importados estavam ajudando no controle da inflação, agora já passaram de um ponto de neutralidade e começam a provocar alta", disse Fernando Ribeiro, economista da Funcex.
O principal culpado pelo novo cenário são os combustíveis importados, que ficaram 23,5% mais caros no último ano, na esteira da valorização do petróleo. O efeito sobre a gasolina e o diesel não é imediato, já que os preços no Brasil são controlados. Mas o querosene de aviação e o plástico estão mais caros.
Além disso, itens que chegam prontos para o consumidor também ficaram mais caros, como alimentos e bebidas (+7,6%), têxteis (+7%), eletrônicos (+6,6%) e calçados e artigos de couro (+9,5%).
O sócio da consultoria Tendências Juan Jensen explica que, com a recuperação dos EUA, a demanda por manufaturados aumentou, o que acaba se traduzindo em preços mais altos.
Parte da alta em dólares, diz, foi compensada pela valorização do real em 2010. Mas, neste ano, a ação do governo e a incerteza externa estão evitando novas valorizações da moeda brasileira.
MENOS CONCORRÊNCIA
A inflação dos importados tem impacto também no preço dos nacionais: como diminui a concorrência, o produtor brasileiro ganha espaço para reajustar seus produtos.
Esse reflexo já pode ser notado no cálculo feito pelo BC a partir dos dados do IPCA: a inflação acumulada em 12 meses pelos itens comercializáveis (cujos preços são afetados pelo cenário externo) saltou de 2,58% em julho para 6,31% em fevereiro.
A taxa dos não comercializáveis, como serviços, por exemplo, subiu num ritmo menor, de 6,97% para 7,91% na mesma comparação.
CHINA
Outro foco de preocupação é o encarecimento dos produtos na China, origem da maior parte das importações do Brasil.
A projeção da Li & Fung, empresa de comércio exterior chinesa, é a de que o aumento dos salários no país vai deixar as exportações 15% mais caras neste ano.
Além disso, a China começou a valorizar sua moeda, o yuan, em resposta à pressão internacional contra os preços muito baixos dos seus produtos.
Na Êxito, empresa que importa para o Brasil equipamentos de construção da estatal chinesa XCMG, o contrato de câmbio ficou cerca de 4% mais caro no primeiro semestre desse ano.
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