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Internacional
Quinta - 24 de Março de 2011 às 07:43

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Dezenas de prisioneiros governistas foram exibidos ontem por rebeldes como troféus durante um controverso tour para jornalistas estrangeiros por bases militares tomadas pela insurgência no bastião de Benghazi.

Homens de quase todas as idades apresentados como militares líbios e mercenários estrangeiros a serviço do ditador Muammar Gaddafi ficaram por meia hora expostos aos olhares de repórteres, que pressionaram até conseguir falar com os presos.

A exibição de supostos combatentes detidos nos últimos dias em cidades do leste parecia ter dois objetivos: mostrar a força dos antigoverno e provar que os insurgentes, ao contrário do regime, tratam com dignidade os inimigos capturados.

Mas o que se viu foi uma espécie de teatro armado cujo desfecho fugiu do roteiro.

Após chegar em um ônibus fretado à prisão da Polícia do Exército, cerca de 50 jornalistas foram levados ao pátio de banho de sol, onde já se encontravam os presos.

Os primeiros a ser apresentados foram estrangeiros do Mali, Níger, Gâmbia e Chade, sentados rente a um muro. Uns aparentavam ser menores de idade, outros eram idosos. Muitos ostentavam curativos e ferimentos.

Do outro lado, estavam os líbios. Segundo rebeldes, eram militares da coluna repelida por caças franceses antes de chegar a Benghazi, no sábado.

Enquanto insurgentes explicavam que os presos estavam sendo bem tratados e alimentados, um dos estrangeiros começou a gritar.

Dizia que havia sido tirado de casa à força há uma semana por três homens armados. "Eles violentaram a minha mulher e me espancaram", afirmava.

Os guias negaram. "Por que você mente? Por que você não diz que se machucou quando caiu de um muro ao fugir?", questionava um rebelde, também aos gritos.

O insurgente então mostrou os documentos do preso, um cidadão de Gâmbia residente há dez anos na Líbia que teria sido capturado após denúncia de vizinhos, sob acusação de sair à noite vestido de mulher para atacar moradores de Benghazi.

Como prova, um rebelde mostrou aos jornalistas três velhas perucas ruivas e morenas. O detido alegou que pertenciam à sua mulher.

Em outra área do pátio, um general uniformizado explicava que havia se rendido aos rebeldes antes de atacar em Benghazi. Não quis explicar por que estava com olho roxo e hematomas no rosto.

O almoço foi levado aos presos às 16h, na presença dos jornalistas.

Rebeldes negaram violação da Convenção de Genebra, que proíbe tratamento degradante de prisioneiros de guerra, e disseram à Folha que todos os mostrados aceitaram ser apresentados à imprensa. Uma integrante da ONG Human Rights Watch acompanhou o tour, mas não quis se pronunciar.






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