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Terça - 22 de Março de 2011 às 11:40
Por: Katiana Pereira

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MidiaNews/Katiana Pereira
Flanilhas dão plantão próximo ao Goiabeiras Shopping: o cidadão paga o pato...
Flanilhas dão plantão próximo ao Goiabeiras Shopping: o cidadão paga o pato...

Está cada vez mais difícil aos motoristas estacionar seus carros em Cuiabá sem ter que colocar a mão no bolso. As regiões centrais e as principais áreas comerciais da Capital, incluindo-se as proximidades com hospitais, colégios e restaurantes, estão tomadas pelos chamados "flanelinhas", que cobram para "vigiar os carros" sob a ameaça velada de causar danos nos mesmos em caso de negativa pelos motoristas.

Eles viraram os "reis das ruas" e criaram um verdadeiro comércio ilegal de estacionamento nas vias públicas. Ouvidos pelo MidiaNews, alguns confessaram à reportagem que ganham até R$ 1,3 mensal.

Em áreas de grande movimento, existem os estacionamentos rotativos, estes legalizados. Mas quem comanda o setor é o mercado paralelo promovido pelos flanelinhas.

Loteamento

Para se ter uma idéia do nível de "profissionalização" dos flanelinhas, vários pontos de estacionamento na Avenida Lava Pés, próximos ao Goiabeiras Shopping, já têm dono.

O menor R.D.S., de 16 anos, não faz rodeios quanto à sua "profissão": disse que o ponto é dele; e que cuida dos carros por não gostar de trabalhar.

"Eu não gosto de trabalhar mesmo. Meu pai não sabe que eu fico aqui, eu venho escondido. Ajudo os taxistas e motoristas e ganho meu dinheiro", disse o menor.

Ele disse que ganha, em média, R$ 40,00 por dia. Já o destino do dinheiro é incerto. O jovem se irrita com a pergunta sobre o que faz como a verba arrecadada e nega que ela seja usada para a compra de drogas. "Eu uso para me manter, guardo no banco. Cada dia faço uma coisa com o dinheiro, eu não uso drogas".

Em outro ponto da cidade, na Praça Ipiranga, na Prainha, Clodoaldo Silva, de 32 anos, "gerencia" as vagas de estacionamento no entorno do prédio do Ganha Tempo, do governo do Estado.

Clodoaldo disse começou a fazer bico como "guardador de veículos" depois que sofreu um acidente de trânsito. "Eu trabalhava como motorista profissional mas, depois do acidente, não consegui emprego. Daí me separei da minha mulher e acabei caindo nesta informalidade", explicou.

O flanelinha disse que é de família cuiabana e que esconde dos familiares a verdade sobre a sua atual ocupação. "Minha família não sabe que estou fazendo esse bico. Eu venho para cá às 8 horas e retorno no início da noite. Divido o ponto com um colega e chego a tirar R$ 35,00 por dia livre das despesas de refeições", afirmou.

Quando querem aumentar seus ganhos, os flanelinhas saem dos pontos fixos e, durante a noite, partem para locais de grande movimento, casas noturnas, bares e restaurante.

O publicitário Bruno Cidade afirmou que se sente "revoltado" com a ação dos "flanelinhas". "Quando saio de casa já tenho que separar o dinheiro que vou gastar com isso. Na maioria das vezes eles cobram de R$ 3,00 a R$ 5,00. Já gastei R$ 12,00 em poucas horas. É lamentável", afirmou.

Faixa verde

Na contramão da infestação de flanelinhas pela cidade, o estacionamento Faixa Verde, gerenciado pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Cuiabá, está perdendo o espaço.

O presidente da CDL, José Alberto Vieira de Aguiar, disse que a situação já é tema de preocupação. Vieira acredita que a Faixa Verde é cada vez mais necessária para que o trânsito de Cuiabá não se transforme em um verdadeiro caos.

Uma das justificativas de Aguiar é o aumento crescente da frota e a falta de locais para estacionamentos rotativos, sobretudo nas áreas mais movimentadas da capital.

"É preciso entender que esta crescente frota exige uma malha viária diferente e engenharia de tráfego para que haja mobilidade urbana. Esta mobilidade e trânsito também dependem de vagas de estacionamentos disponíveis. Se estes carros não tiverem condições de circular e estacionar adequadamente, o trânsito vira caos", afirmou José Alberto.

Segurança e omissão

A Polícia Militar revelou dados de uma pesquisa em que o sistema de estacionamento rotativo Faixa Verde influenciou para uma redução de 62% do número de roubos e furtos em 2010.

O capitão da PM Paulo César de Melo informou que existe um projeto para ampliação do Faixa Verde. "Pensamos na ampliação do projeto para outras vias, a exemplo do entorno do Shopping Três Américas", disse.

A região do Shopping Três Américas, aliás, é uma das preferidas pelos flanelinhas, que atuam em dezenas nas proximidades.

Enquanto as autoridades públicas se mostram alheias ao problema - ou, pior, não dão conta de resolvê-lo por causa da incompetência -, mais uma vez os cidadãos se sentem acuados e acabam virando vítimas da falta de civilidade que, infelizmente, assola cada vez mais Cuiabá.
 






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