França considera crise nuclear mais grave do que Japão avalia
A Autoridade Francesa de Segurança Nuclear (ASN) afirmou nesta segunda-feira que o acidente nuclear no complexo Fukushima Daiichi, no Japão, pode ser classificado no nível 5 (acidente com consequências de maior alcance) e talvez até mesmo 6 (acidente grave), em uma escala de 1 a 7. O governo japonês diz, por sua vez, que o superaquecimento de três dos seis reatores da usina está na categoria 4 (acidente com consequências de alcance global).
O órgão francês comparou assim a crise nuclear em Fukushima ao acidente na ilha Three Mile, nos Estados Unidos, que sofreu uma fusão parcial em 28 de Março de 1979, causando vazamento de radioatividade para a atmosfera.
"Nível 4 é um nível sério", disse o presidente da ASN Andre-Claude Lacoste, em entrevista coletiva. "Nós sentimos que nós estamos ao menos no nível cinco ou até mesmo seis". A estimativa francesa foi feita com base em informações providenciadas pelo Japão, informações de especialistas estrangeiros e "fontes informais".
A França, país mais dependente de energia nuclear, tem 58 reatores responsáveis por quase 80% da energia consumida no país. Lacoste disse, contudo, que é extremamente difícil um acidente similar na França.
"Nós estamos no começo de uma crise que pode durar ao menos por semanas", disse Lacoste.
Segundo a escala de acontecimentos nucleares e radiológicos conhecida como INES, a catástrofe nuclear de Tchernobil, em abril de 1986, foi de nível 7, o mais alto jamais alcançado, definido como "um acidente maior, com um efeito estendido à saúde ao meio ambiente".
O nível 6 se refere a "um vazamento importante que pode exigir a aplicação integral de contramedidas previstas" e o nível 5 é um acidente com vazamento limitado.
CRISE NUCLEAR
As varetas de combustível do reator nuclear 2 do complexo japonês Fukushima Daiichi, atingido pelo terremoto de sexta-feira (12), agora estão totalmente expostas, informou a operadora da usina, a Tokyo Electric Power Co., citada pela agência de notícias Kyodo.
As varetas, formato no qual o urânio é moldado dentro do reator, haviam ficado expostas parcialmente mais cedo, mas os especialistas conseguiram estabilizar a situação, utilizando inclusive água do mar para aumentar o nível de água do sistema de resfriamento.
A Tokyo Electric Power Co. diz que a exposição ocorreu porque o canal de ventilação do vapor produzido pelo aquecimento do reator foi fechada acidentalmente nesta segunda-feira, causando uma nova e repentina queda do nível de água de resfriamento.
Três dos seis reatores de Fukushima estão aquecendo em níveis perigosos e as autoridades correm para evitar um derretimento --que aumentaria o risco de danos ao reator e de um possível vazamento nuclear, segundo especialistas.
O maior temor é de um grande vazamento de radiação do complexo em Fukushima, 240 quilômetros ao norte de Tóquio.
O governo alertou as pessoas que vivem num raio de 20 quilômetros em torno da usina a não saírem de casa. Segundo a Kyodo, 80 mil pessoas foram retiradas da área, somando-se a outros 450 mil desabrigados do terremoto e do tsunami.
Os engenheiros trabalhavam desesperadamente para resfriar as barras de combustível nuclear na usina neste fim de semana, mas não conseguiram evitar duas explosões no reator 3, por causa do acúmulo de hidrogênio. A Tokyo Electric Power Co. disse que 11 pessoas ficaram feridas na explosão.
A explosão foi similar à ocorrida no sábado (13) no reator número 1 dessa unidade e, igual a essa ocasião, não causou danos em seu recipiente primário nem vazamento maciço de radiação, segundo o governo.
O porta-voz do governo, Yukio Edano, afirmou mais cedo que os responsáveis pela unidade têm "tudo preparado" para injetar água do mar no reator, a fim de tentar controlar sua temperatura.
Especialistas nucleares disseram, contudo, que é provavelmente a primeira vez em 57 anos da indústria nuclear de que a água do mar tem sido usado desta forma, num sinal de como o Japão pode estar próximo de um acidente grave.
"A injeção de água do mar em um núcleo é uma medida extrema", disse Mark Hibbs, do Fundo Carnegie para a Paz Internacional. "Isso não está de acordo com os manuais."
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