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Policia MT
Segunda - 14 de Março de 2011 às 07:47
Por: Silvana Ribas

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Enquanto não estão atendendo clientes, comerciantes se dividem em vigília na rua, observando a aproximação de assaltantes para dar o alerta aos vizinhos. Esta tem sido a rotina de terror imposta pelos criminosos para quem vive e trabalha na avenida Brasil, uma das ruas comerciais mais movimentadas do CPA 2, em Cuiabá. Os comerciantes que ainda resistem na região temem protagonizar uma tragédia e pagar, talvez com a própria vida, pela falta de segurança e pela sensação de impunidade que experimentam.

É o caso do cabeleireiro Silvio Ferreira, 58, que ainda tem no corpo as marcas da agressão sofrida no último assalto, no mês passado, quando além de roubado foi espancado pelo ladrão armado com um revólver. Ele e o companheiro de trabalho foram agredidos. Golpes de coronhadas na cabeça, chutes e mãos pisoteadas na tarde de um sábado. Depois de pegar todo o dinheiro do caixa, o ladrão ainda atirou o celular da vítima contra a parede. Ficou furioso e o xingou porque o aparelho era velho. Enquanto todos estavam deitados no chão, o cúmplice do criminoso aguardava sobre a moto, na calçada, diante do comércio. Em poucos minutos os bandidos deixavam o pequeno salão com todo o dinheiro de um duro dia de trabalho. Deixavam para traz o medo e a revolta. Só neste salão foram 3 ataques nos últimos meses.

Sílvio já pensa em trabalhar de portas fechadas, mas admite que nem sempre vai poder detectar a diferença entre um cliente e um possível criminoso. Ele é um dos empresários da rua que se reveza na vigilância, quando o salão está sem clientes. Diz que todos trabalham sobressaltados. Basta ouvir um som de motor de moto estacionando que o coração dispara.

A ação dos criminosos não tem horário definido e acontece a qualquer momento. Muitas vezes, existe um policiamento fixo há poucas quadras do ataque. Na última quarta-feira de cinzas, a mesma dupla em uma motocicleta atacou 2 comércios localizados a poucos metros do outro. Uma das proprietárias correu pela rua gritando e chegou a ser perseguida pelo ladrão com a arma em punho.

Em desespero, correu para a distribuidora de bebidas de A.P., 56, onde se escondeu no banheiro. Em decorrência do roubo no comércio vizinho, a mulher de A. passou mal e teve que ser hospitalizada. Segundo ele, a rotina de apreensão que a família vive por causa dos ladrões interfere diretamente na saúde da esposa e até na dele. Há 13 anos com distribuidora de bebidas na região, calcula ter sofrido mais de 50 ataques de ladrões, entre tentativas e roubos consumados.

Pelo fato de morar junto ao comércio e funcionar até meia-noite, acaba sendo mais visado. Nunca deixa o caixa sem dinheiro, por pouco que seja, pois teme ser morto caso não tenha o que dar aos ladrões. Já é motivo de piada entre os colegas da rua, que dizem que ele já deixa a sacola plástica com o dinheiro dos ladrões separada e só entrega quando eles chegam apontando a arma.

Muitos entram e pedem um refrigerante e, em seguida, quando ele se vira para pegar o produto, já tem a arma apontada contra si. "Eu tenho medo de morrer. Normalmente os ladrões são muito jovens, enquanto seguram a arma contra o meu peito estão com as mãos tremendo. Qualquer reação pode acabar em tragédia".

O medo da família é tanto que o filho adolescente de 16 anos não quer trabalhar com o pai e procura outro serviço, bem como a filha que hoje trabalha em outra empresa por temer ficar na distribuidora. Segundo A., com certeza se os 2 filhos trabalhassem com ele, ganhariam muito mais do que em outros locais e ajudariam o empreendimento familiar. Mas eles dizem que o preço é muito alto. E o pai concorda, pois sabe que a vida deles não tem preço.

O pequeno comerciante diz que a situação que ele vivencia não vai ser resolvida somente com o reforço no policiamento. Reflete a sensação de impunidade que a sociedade brasileira enfrenta. "Hoje a Polícia prende e a Justiça solta em poucos dias. Tenho amigos advogados que diariamente comentam que ganham muito dinheiro libertando traficantes, ladrões e assassinos".

Na opinião dele, ou as leis mudam para garantir o direito de quem é honesto e trabalha, ou a situação vai ficar ainda pior.

Há 20 anos com a farmácia funcionando na avenida Brasil, o comerciante Jair de Amorim Novais, 48, admite que a situação está fora de controle. Ele lembra que possuía uma farmácia na área central, na avenida Tenente Coronel Duarte (Prainha), que funcionava durante 24 horas e só foi roubado uma vez. Já no CPA 2, perdeu a conta de quantas vezes foi alvo de criminosos. A situação é tão crítica que teve que reduzir o horário de atendimento até 19h30, acarretando a redução no quadro de funcionários.

Por causa dos assaltos, o escritório fica isolado da loja e a comunicação acontece via telefone. Mesmo assim os vendedores continuam sendo alvos dos ladrões e trabalham amedrontados. Jair não vê solução a curto prazo para o problema e admite que a situação que vivemos hoje resulta de políticas públicas equivocadas, onde crianças e jovens estão fora de escolas, não têm acesso a cursos de formação e acabam sendo aliciados pelo crime.

"Eu trabalhei desde adolescente e nunca deixei de estudar. Os jovens não têm perspectivas de sonhar com uma profissão, um trabalho, um meio de conseguirem comprar o que desejam. Já fui jovem e sei como eles se sentem ao verem um tênis bonito. Acabam entrando para o crime, um caminho muitas vezes sem volta".

Enquanto as políticas públicas não afastam os ladrões da farmácia, Jair também integra o grupo de "seguranças voluntários" da avenida Brasil. Passa boa parte do dia em pé, em frente ao comércio, vigiando a movimentação de suspeitos para dar o alerta em caso de um novo roubo. Ele ainda resiste e lembra que outros empresários acabaram não suportando a onda de crimes e fecharam as portas.

É o caso do dono de uma padaria que há 20 anos estava na região, mas fechou o comércio por não suportar mais os roubos.

Policiamento - O comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar, que atende a região da Grande Morada da Serra, assegura que existe um policiamento específico para as avenidas Brasil e Pernambuco, que são as que concentram o maior número de comércios no CPA 1 e 2. O tenente-coronel Gley Alves de Castro disse que infelizmente muitas denúncias de roubo não são formalizadas pelas vítimas, que se sentem até intimidadas pelos criminosos. Por não ter o conhecimento dos crimes, o comando deixa de reforçar o policiamento para estes novos pontos de migração dos criminosos.

Admite que pelo efetivo reduzido, hoje a Polícia Militar precisa trabalhar em função da ação dos criminosos e reforçar a ação em pontos onde a incidência de crimes é maior. Acredita que com a inserção de novos policias aprovados em concurso público no ano passado, haja um reforço no policiamento da região. Hoje o 3º Batalhão é responsável pela atuação em uma área de 115 a 120 bairros, com uma população estimada em 247 mil habitantes






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